PARA QUE SERVE A IGREJA? | Pr. Ricardo Castro
Pois também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
Mateus 16.18
Desde a sua fundação a Igreja do Senhor Jesus passou por grandes períodos de perseguição. À princípio talvez o diabo e seus seguidores pensassem que conseguiriam deter a Obra de Deus. Mas quanto mais era perseguida, mais crescia a igreja. E como diziam os cristãos do passado: o sangue dos mártires era semente.
Por causa disso, já que o diabo viu seus planos frustrados, traçou o plano arguto de unir-se à igreja. E assim, fez com que o imperador romano Constantino decretasse que o cristianismo fosse a religião oficial do Império. E com isso surgiu o período mais negro de toda cristandade, conhecido como a Idade das trevas. Nesse período a igreja tornou-se tão corrompida que quase não havia diferença entre ela e o paganismo.
Mas o Senhor, que não perde em batalha, levantou um monge agostiniano chamado Martinho Lutero para encabeçar um movimento de reforma que ficou conhecido como “A reforma protestante”, que nada mais era do que a Igreja retornando ao Caminho das Sagradas Escrituras.
E durante toda a história mundial o inimigo de nossas almas tem engendrado diversas armadilhas para tentar impedir a obra de Deus. Mas seus esforços sempre foram frustrados pelo Senhor Jesus e seus servos fiéis.
Todavia, nesses últimos dias temos sido testemunhas de um novo ataque à Igreja do Senhor Jesus. E essa nova investida é muito mais ardilosa, pois o golpe não vem de fora, mas sim de dentro da própria igreja. Trata-se de um movimento que recebeu a alcunha de “Movimento dos desigrejados” e tem como objetivo a desestruturação da Igreja.
Os proponentes desse movimento vem disseminando argumentos falaciosos com o intuito de provar que a Igreja orgânica tornou-se obsoleta. Na verdade eles dizem que o Senhor Jesus nunca tencionou fundar uma igreja orgânica, mas sim, apenas disseminar uma nova filosofia que alcançaria indivíduos, sem que não houvesse qualquer tipo de organização.
Para quem ainda não teve contato com os ensinos desse movimento, à primeira vista parece uma coisa absurda, dado o fato de que desde o dia de Pentecostes sempre houve uma igreja organizada, com liderança e liderados. Mas, adentrando nos meandros desse movimento, vemos que a cada dia ele vem se fortificando e conseguindo, de certa forma, desestruturar as igrejas, tirando de seu rol de membros pessoas que outrora eram militantes da causa do Reino de Deus.
Por causa disso vemos que muitos indivíduos têm surgido na mídia, principalmente nas redes sociais e plataformas de compartilhamento de vídeos, colocando em dúvida a relevância da igreja para os dias de hoje.
Diante do exposto, minha proposta aqui é descobrirmos o que a Bíblia, que é o manual de fé e prática dos cristãos (supostamente também dos desigrejados) tem a dizer a respeito da igreja.
Em nossa busca, em primeiro lugar descobrimos que a Bíblia diz que a Igreja não pertence a ninguém mais do que o próprio Senhor Jesus Cristo. Foi Ele mesmo quem disse “Edificarei a minha igreja”. Logo, o dono da igreja indiscutivelmente é Jesus.
Entretanto, historicamente sempre houve pessoas que se achavam os proprietários da igreja, tendo a prerrogativa, inclusive, para determinar quem pode ou não fazer parte dela. Em tempos passados, devido à ignorância do povo, os homens foram crescendo em poder dentro da igreja ao ponto de alegarem ser infalíveis em suas decisões e que detinham o poder até para perdoar pecados. E assim, esses homens passaram a desfrutar da devoção do populacho e a mandar e desmandar dentro da igreja como se fossem os verdadeiros donos dela. E para consolidar sua posição, esses homens deram uma interpretação esdrúxula ao texto que citamos no início, alegando que a igreja foi edificada sobre Pedro e seus sucessores.
Todavia as Escrituras deixam bem claro que o Verdadeiro Dono da Igreja é o Senhor Jesus e que ela está firmada não sobre um homem falível, mas sim, sobre a revelação de que Jesus é o Filho de Deus.
Na passagem em questão, Jesus fez um trocadilho entre as palavras pedra (petrus) e rocha (petra). O caso é que devido a inconstância de Simão, o Mestre havia lhe colocado o apelido de Pedro (Petrus). Com isso, ele estava dizendo que Simão era como uma pedrinha rolante, que poderia ser facilmente transportado para todos os lados. Mas quando Jesus fala da edificação da Sua Igreja, ele usou a palavra Rocha (Petra), dando a conotação de algo firme, inabalável e duradouro. Por isso a igreja não pode ter sido edificada sobre Pedro (inconstante e volúvel). Ela está edificada sobre o próprio Jesus, a Rocha firme e inabalável.
Se a igreja tivesse como seu dono um ser humano qualquer, seja Pedro ou qualquer outro, ela já teria sido destruída desde o seu nascedouro no dia de Pentecostes. Isso porque os homens são assás inconstantes e falhos, além de pecadores. Mas, por que a Igreja está firmada sobre a Rocha Eterna, então “as portas do inferno não podem prevalecer contra ela”.
Vejo essa última declaração do Senhor Jesus de duas formas. A primeira é que quando Jesus fala de “portas do inferno” está se referindo ao sepultamento. Isto é, em diversas situações os homens e o diabo quiseram sepultar a igreja, seja por meio da perseguição ou do descrédito. Mas as portas da sepultura nunca puderam aplacar a Igreja do Deus vivo.
A segunda forma que vejo essa declaração é que porta é algo que impõe limites. É algo que impede a entrada ou a saída. Mas, já que o dono da Igreja não é o Pedro ou seus sucessores, mas sim Jesus Cristo, não há nada que possa limitá-la. Portanto, todas as limitações impostas pelo diabo facilmente caem por terra.
No momento em que escrevo essas linhas, o mundo está em meio a um grande período de caos e limitação devido ao vírus Covid-19, que foi proveniente da China mas que se alastrou por todos os continentes da terra, ceifando incontáveis vidas.
Apesar da realidade desse vírus, que é extremamente transmissível, enquanto pastor de uma igreja local, insisti em manter os cultos presenciais até onde pude. Mas, mediante uma determinação do Governador do meu Estado à época, decidi por pura prudência, suspender os cultos de nossa igreja. Para alguns crentes extremados, essa atitude tomada por mim e por inúmeros outros pastores espalhados na face da terra, seria uma demonstração de falta de fé. E para muitos outros fora da Igreja, essa atitude seria uma medida limitadora à Obra de Deus. Eles pensavam que o vírus conseguiria parar a igreja.
Porém, conforme está revelado no texto em epígrafe, “as portas do inferno” não podem, em caso algum, limitar a Igreja do Senhor Jesus. Por isso mesmo no período de quarentena, a Igreja não parou. Muito pelo contrário, esteve mais atuante do que nunca. Continuamos realizando cultos, porém estivemos transmitindo-os online. E assim como eu, incontáveis pastores estiveram realizando os cultos nos templos, enquanto os membros da Igreja cultuam nos seus lares. Inclusive, nesse período vimos o ressurgimento do maravilhoso culto nos lares, que há muito tempo havia sumido da práxis da Igreja. Além disso, o alcance dos cultos virtuais, que mesmo depois da reabertura dos templos continuaram a ser transmitidos, tem sido muito grande, já que sua assistência consta com pelo menos o triplo do número de membros de nossa igreja.
Assim, se o diabo pensou que deteria a Obra de Deus, mais uma vez o tiro saiu pela culatra. Nada pode parar a igreja, pois ela pertence ao Senhor, que é nossa Rocha firme.
Depois de passado o tempo de quarentena, os cultos presenciais voltaram e os irmãos comprometidos com o Reino retornaram a se reunir para cultuar.
Além de pertencer ao Senhor, a Bíblia também nos revela que a Igreja é a “coluna e baluarte da verdade” (1ª Timóteo 3.15).
Quando o Apóstolo Paulo escreveu essas palavras, ele tinha em mente que de todas as organizações existentes no planeta Terra, apenas a Igreja é, por excelência, a única defensora da verdade pura. Podemos ver, por exemplo, que outras organizações, embora tenham excelentes programas para a preservação da vida e implementos de auxílio, sempre tem em seu bojo de conceitos algo pernicioso, como a defesa do aborto, da vida desregrada, do homossexualismo, etc. Mas apenas a Igreja é aquela que se põe no lado da verdade e se propõe a propagá-la, mesmo que isso lhe custe caro.
Por toda a história mundial vemos que a Igreja sempre se manteve ao lado da verdade, quando deixou-se guiar pelos padrões bíblicos. E é por isso que os homens sempre a perseguiram, pois o posicionamento da igreja choca-se contra os seus interesses.
No que tange a Igreja, temos que ter em mente que nela estão em voga dois fatores. Os fatores humano e Divino. No fator humano, a Igreja é uma reunião de pecadores e por isso tem muitas falhas. E foi por causa do fator humano que a Igreja (que não é infalível como alguns advogam) cometeu diversos erros, chegando, inclusive, a matar em nome de Deus. Também é por causa do fator humano que a Igreja acabou cedendo aos ditames do mundo e tornou-se fonte de lucro para homens mal intencionados.
Entretanto, também existe o fator Divino. E por causa dele a Igreja é perfeita. Isso porque ela é a expressão do Senhor Jesus na terra, o Corpo de Cristo. É por meio dela que o mundo conhece o amor de Deus e é por causa dela, que é o Sal da Terra (Mateus 5.13), que o mundo ainda não foi destruído. Vemos como exemplo que, assim como as cidades de Sodoma e Gomorra não foram destruídas enquanto o justo Ló e sua família estavam no meio delas, assim é a Igreja e o mundo.
É por esse motivo que a Igreja é extremamente importante na preservação do mundo. Sem a Igreja o mundo estaria sem o Testemunho de Cristo.
Mas, além de tudo isso, a Igreja é uma família. O Apóstolo Paulo disse que nós, cristãos, somos membros da Família de Deus (Efésios 2.19). E é entre familiares que conseguimos aliviar as pressões da vida, já que em família dividimos as nossas cargas (Gálatas 6.2). Também é em família que conseguimos crescer, pois é onde aprendemos as lições mais elementares para a formação do nosso caráter. É por esse motivo que Salomão disse que assim como o ferro é afiado pelo atrito com outro ferro, assim somos nós com o nosso irmão (Provérbios 27.17). Isso me diz que é em contato com as virtudes e defeitos dos meus irmãos que cresço e aprendo lições vitais para minha vida. Sobre esse assunto há um ditado chinês que gosto muito e que diz que “o inteligente aprende com seus próprios erros. Mas o sábio aprende com os erros dos outros”.
E é nessa comunhão com meus irmãos que sou fortificado. Foi também Salomão quem disse que “um cordão de três dobras é difícil de romper” (Eclesiastes 4.12). Entendo que ele está falando da comunhão entre nós, nossos irmãos e Deus. E isso só é possível por meio da intervenção da Igreja, dada a influência cada vez maior ao individualismo e o isolamento nos dias de hoje.
Se observarmos ao nosso redor, tudo contribui para que o homem viva seus dias isolado. Hoje é possível comprar, vender, trabalhar, namorar, etc, por meios virtuais. Sem falar que todos os aparelhos que os homens criam tendem a deixá-lo cada vez mais entretido e isolado. E é aí que entra a forte influência da Igreja, que quebra esses padrões e faz com que os homens interajam e vivam em comunhão.
Mas a figura mais linda empregada à respeito da Igreja é a de que ela é a Noiva do Cordeiro (Apocalipse 19.7,8). A Igreja é a Noiva pois ela está desposada com Jesus, se preparando para o dia do casamento. E é por isso que a Bíblia diz que a Noiva atavia a si mesma, preparando-se para o matrimônio, que se dará no Arrebatamento da Igreja.
É por esse motivo que a Bíblia diz que a Noiva deve ser imaculada (Efésios 5.27). Isso porque nenhum noivo quer casar-se com uma noiva qualquer, que tenha casos amorosos diversos e que esteja acostumada à sujeira do mundo.
Em termos humanos, é muito linda a cerimônia de casamento. Mas de todas as coisas lindas que há na cerimônia, a mais linda sempre é a noiva. Ela se veste com um traje que comumente não usa, um traje pomposo que revela toda sua relevância. Geralmente esse traje é da cor branca e a noiva traz em sua cabeça um véu, simbolizando sua pureza. Tudo isso é uma sombra do relacionamento da Igreja com Seu Noivo.
A Igreja é muito cara para o Senhor Jesus, que a ama mais que tudo e que por isso deu a Sua vida (Efésios 5.25).
É por todas essas coisas que a Igreja nunca deixou de ser relevante para a sociedade. Mas devido ao movimento dos desigrejados, a cada dia mais as pessoas vão achando que a Igreja tornou-se obsoleta. Alguns, inclusive, argumentam que já que o Senhor não habita em templos feitos por mãos humanas, não há motivos para frequentar as igrejas. E infelizmente muitos são aqueles que engrossam as fileiras dos que têm desistido da Igreja. Hoje chamamos de desigrejados aqueles que antes eram chamados de desviados.
Todavia essas pessoas se esquecem de que há uma ordem para que congreguemos (Hebreus 10.25). Essa ordem foi dada porque, em primeiro lugar, esse é o meio bíblico para o nosso crescimento, pois um cristão isolado não tem condições de alcançar a maturidade espiritual.
Há muitos exemplos bíblicos que nos mostram que devemos viver em comunidade. Mas o exemplo mais pujante é o da igreja do primeiro século, que perseveravam unânimes na comunhão, no partir do pão e nas orações (Atos 2.42). Mas também é dito nas Epístolas que é na comunhão que dividimos nossas cargas, sorrimos e sofremos juntos, nos admoestamos mutuamente e, sobretudo, crescemos juntos até a Volta Gloriosa do Salvador.
Por causa disso, além de ser uma ordem bíblica, frequentar a Igreja é uma necessidade, pois sem a comunhão dos santos certamente morremos espiritualmente.
Diante disso tudo e embora alguns julguem que a Igreja não é relevante, não devemos jamais desprezar a Igreja do Deus Vivo. Isso porque a Igreja não pertence a homem algum. Ele é exclusivamente do Senhor. A Igreja também é a coluna e o Baluarte da verdade e a única organização que a propaga na íntegra, mesmo em perigo de morte. É ela quem dissemina o conhecimento do Senhor e defende a família e os bons costumes. Mas acima de tudo, a Igreja é a nossa família e a Noiva do Cordeiro. Que a amemos e zelemos por ela cada dia mais.
Pr. Ricardo Castro
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