Igreja, uma comunidade de diferentes




Sou cristão há exatamente três décadas e nunca passei uma semana sequer sem participar de um culto na igreja. E isso me permitiu conhecer um grande número de pessoas, todas com sua cultura e modo de vida peculiares. Na igreja, sentam-se lado a lado a dona de casa e o freelancer. Os jovens e os velhos. Intelectuais, músicos, pessoas ricas e muitos outros. E é exatamente isso que faz da igreja um lugar único. Como poderíamos conhecer tão profundamente esse grupo de pessoas tão diferentes de nós se não fosse a igreja?
Mas isso não é de agora. Se observarmos os discípulos de Jesus, veremos que mesmo no colégio apostólico havia diversidade. E a Salvação que o Senhor veio trazer é para todo povo, língua e nação (Apocalipse 5.9) sem qualquer distinção. Da mesma forma, o livro de Atos, capítulo 3 nos mostra que a primeira formação da igreja era composta por pessoas de pelo menos quatorze nações diferentes. E é por esse motivo que o Apóstolo Paulo compara a igreja com um corpo, que possui muitos membros, mas todos unidos em um mesmo organismo (1ª Coríntios 12.12).
E quando falamos de denominações, também existem diferenças nelas, seja no que tange ao seu modo de culto ou ensinamento da Palavra. Há igrejas em que seus cultos têm uma duração de três horas, outras têm apenas uma hora. Algumas igrejas acreditam que seu quadro de obreiros deve consistir apenas de Pastores e diáconos, mas já outras criaram diversos cargos eclesiásticos para atender a demanda da congregação. Há igrejas fracionadas em células, outras em congregações e outras que são apenas igrejas independentes. Até no governo da igreja há diversidade, pois umas adotam o sistema episcopal, outras o sistema congregacional e ainda outras, o presbiteriano.
E esta diversidade é necessária para a difusão do Evangelho, porque para chegar a todos os povos, línguas e nações, a Igreja deve ser multifacetada. Por isso o Apóstolo Pedro fala da Multiforme graça de Deus (1ª Pedro 4.10).
Entretanto, mesmo existindo toda essa diversidade na igreja, ela tem unidade.
A respeito da Igreja do primeiro século, que inicialmente tinha representantes de diversas nações, é dito que “todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum” (Atos 2.44). E Paulo roga aos Coríntios para que eles falassem “todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer" (1ª Coríntios 1.10).
Assim, deve haver unidade na diversidade da igreja. Somos díspares em nossas culturas e modos de vida, mas juntos expressamos a mesma fé e adoramos o mesmo Deus.
No entanto, alguns erroneamente confundem Unidade com Conformidade.
A unidade se expressa em elementos diferentes, dispostos para concordarem em um só propósito. Na unidade, é respeitada e valorizada a diversidade alheia, pois cada um, segundo a sua cultura ou cosmovisão, contribui de maneira construtiva para o bem comum.
Já a Uniformidade é a conformação com padrões, sejam eles de roupas, aparência, comportamento e opinião, dentre outros. Isso certamente sufoca a diversidade a agride a individualidade, já que todos devem seguir as mesmas regras.
Existem igrejas que impõem aos seus membros a uniformidade, crendo que estão preservando padrões de moralidade e conduta. Mas toda a uniformidade é nociva: ela suprime a beleza da diversidade que Deus nos deu. A uniformidade é nociva também porque inibe talentos e tolhe inovações que poderiam agregar valor aos métodos evangelísticos, por exemplo. E o maior perigo da uniformidade é o espírito intolerante que dele descende. Quem já não viu cristãos fanáticos que travam verdadeiras bravatas para defender a cosmovisão do movimento a que faz parte?
Infelizmente, alguns pastores e líderes de ministérios acreditam que a imposição de uniformidade é necessária para que eles possam exercer mais controle e domínio sobre sua comunidade. Eles buscam impor padrões rígidos, suprimindo a diversidade de pensamentos, ideias e expressões, punindo aqueles que ousam ser diferentes. Esta abordagem é perigosa, pois limita a liberdade e a criatividade das pessoas, levando à intolerância daqueles que o seguem por medo daqueles que pensam “fora da caixa”.
Por isso é importante que a igreja valorize sempre a diversidade dentro de seus domínios.
Quando falo sobre diversidade na igreja, é importante esclarecer que esta diversidade não deve ser confundida com aquela promovida pelo mundo, que incentiva a quebra de padrões éticos e morais estabelecidos pela Bíblia. Em vez disso, a diversidade na igreja deve ser entendida como a variedade de perspectivas e opiniões dentro dos princípios e ensinamentos estabelecidos na Palavra de Deus. É importante lembrar que qualquer ideia ou conceito que vá contra os ensinamentos bíblicos deve ser rejeitado e afastado. A igreja deve ser um espaço onde a diversidade é celebrada, desde que esteja alinhada às verdades estabelecidas na Bíblia.
Cultivar uma comunidade de diferentes torna a igreja um ambiente acolhedor bem como possibilita adotar formas mais eficazes para propagar o Evangelho de Cristo entre as muitas culturas e subculturas urbanas. Mas não nos esqueçamos que a despeito da diversidade que prezamos, a igreja é um lugar de unidade, pois todos os cristãos são um, seguindo um mesmo propósito e lutando pelo estabelecimento do mesmo Reino. E a palavra de Deus nos adverte que independentemente de nossas diferenças. Somos igualmente valorizados em Cristo. Gálatas 3.28 é uma passagem clara que traz a Lume essa verdade.
“Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28).
Por fim, podemos concluir que a diversidade é uma dádiva de Deus. A Bíblia nos ensina a valorizar e celebrar as diferenças, e por meio desta valorização, construir uma comunidade de pessoas diferentes que, unidas na fé, possam alcançar todas as pessoas da sociedade.









Ricardo Castro
Pastor da Igreja Bíblica Vida Eterna (IBVE)

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