Graça e Salvação: Refutando as alegações de um bispo universal
Sou um leitor voraz, e por isso leio de tudo, e não tenho o costume de me escandalizar com quase nada. Mas recebi de um amigo o jornal dominical da Igreja Universal do Reino de Deus, chamado de Folha Universal (Ano 30, n.º 1608, de 5 de fevereiro de 2023). Nele há um texto escrito pelo Bispo Edir Macedo, que me deixou estarrecido.
Tenho grandes amigos nessa denominação e não queria desagradá-los. Mas como disse o Bispo Macedo em seu artigo, “A verdade machuca, a verdade dói, mas a verdade liberta”.
O artigo de Macedo, intitulado “O Erro na Doutrina da Graça”, que consta na seção “Lições de Fé”, inicia sem rodeios já dizendo que os que creem na doutrina da Graça tem uma fé emocional e que tais pessoas estão afastadas de Deus. Mais adiante, ele diz que a graça foi uma doutrina inventada com versículos tirados de seu contexto. Ele chega a comparar a doutrina da graça com as mentiras de satanás.
Já li muitos ataques ao Evangelho que vieram de céticos, ateus e devassos. Mas essa foi a primeira vez que li um ataque vindo de um suposto cristão, protestante e ainda por cima, bispo. E foi por isso que fiquei estarrecido.
Meu objetivo neste texto não é o de atingir ninguém, nem mesmo o próprio bispo, mas é o de esclarecer um grande erro que um formador de opinião como ele expôs em um jornal de grande circulação.
Neste texto não defenderei a doutrina da graça, pois ela não precisa ser defendida. Apenas respeitosamente refutarei as ousadas alegações do Bispo.
Antes de tudo, devemos ter em mente que a graça é um tema central no cristianismo e sua má compreensão afeta nosso relacionamento com Deus.
A palavra graça se origina do termo grego “Charis”, que era uma palavra usada na Grécia antiga para descrever algo belo ou que estivesse em harmonia. Na Bíblia, “Charis” fala do favor imerecido de Deus.
Dessa forma, com a afirmação de que a graça é uma doutrina inventada, Macedo exclui toda a possibilidade de sermos salvos, já que a Bíblia diz que não somos salvos por nossas obras, mas sim pela graça (Efésios 2.8-9). E sobre a questão da salvação, Macedo deixa muito claro que, para ele, a Salvação depende do esforço humano. Ele chega a dizer que para ser salvo, o homem precisa sacrificar a sua vida. Mas a Bíblia fala o oposto, pois ela diz que somos justificados gratuitamente pela graça (Romanos 3.24). A conclusão que chego é que, se seguirmos a “teologia” de Macedo, não precisaremos do Sacrifício de Jesus, pois seremos nossos próprios salvadores, por meio dos sacrifícios que fazemos.
Concernente a sacrifícios, fico a pensar se Macedo oferece algum sacrifício do alto de sua cobertura milionária e sobre as asas do seu jatinho de última geração, enquanto os membros de sua igreja pegam conduções lotadas ou andam a pé para “sacrificar” seus parcos recursos no “altar do sacrifício” universal.
O bispo também diz que os que acreditam na graça, a usam como “salvaguarda para pecar” e que para ser salvo o homem necessita de total santidade. E mais uma vez fico a pensar se foram as doses de Whisky que ele toma regularmente, que o fizeram pensar assim. Ou se os tantos escândalos envolvendo seu nome e sua denominação, muitos deles relatados em livros como “Nos Bastidores do reino” de Mário Justino ou veiculados no Youtube, ainda lhe permite pensar em santidade. E digo novamente, se seguirmos o “evangelho” de Macedo, entenderemos que homens como o mentiroso Abraão, o assassino Moisés, o adúltero Davi, o covarde Pedro e o pecador Paulo estarão todos queimando no fogo do inferno.
E é justamente aí onde age a graça. Ela perdoa os que são falhos e fracos, dando-lhes nova chance para acertar. Dessa forma, Abraão, Moisés, Davi, Pedro e Paulo tiveram uma segunda chance e a usaram. E não nos esqueçamos que, ao contrário do que diz Macedo, todos somos pecadores, e os que dizem o oposto, já estão pecando (1ª João 1.10). E se somos pecadores, sempre precisaremos da segunda chance que a graça de Deus nos oferece. Mesmo o bispo, em toda a sua jactância pudica, necessita da graça. Talvez ele necessite até mais do que muitas pessoas.
Outra das ousadas afirmações dele foi que quando Deus disse a Paulo, “a minha graça te basta” (2ª Coríntios 12.9), isso se aplica apenas ao Apóstolo e naquele caso específico. Logo, a graça não é para todos os crentes em todos os tempos. Se realmente pensa assim, por que ele insere em seus cultos diversos rituais do Velho Testamento, já que os textos são apenas para casos específicos?
A hermenêutica do bispo é seletiva, pois usa os textos bíblicos quando lhe convém e rechaça outros a seu bel-prazer. O irônico é que Macedo afirma serem os que vivem a graça os que tiram versículos do contexto.
Diante disso tudo, fico a pensar no que leva um líder supostamente cristão a atacar tão abertamente uma das doutrinas centrais da fé cristã. Só posso concluir que ao tentar excluir a graça do cristianismo e implantar novamente a lei, o bispo está tentando manipular a fé do povo, subjugando-os debaixo desse pesado fardo, apesar de que ele tenha dito que são os pastores que pregam a graça que usam de manipulações.
Fica mais fácil dizer que a salvação se consegue com o esforço próprio e por sacrifícios (financeiros), para conseguir que o contingente de sua igreja continue depositando seus haveres no altar universal, na fé de que estão comprando uma garantia de uma vida melhor.
Ironicamente, duas páginas antes do artigo do Bispo, há uma chamada para o “congresso para o sucesso”, em que os membros da igreja farão um pacto com Deus e receberão uma aliança. E nem vou falar da reunião denominada “duelo dos deuses” que está exposta na mesma publicação. Diante disso, pergunto quem está usando de manipulações.
Em suma, não podemos olvidar da graça, pois, mesmo não a merecendo, Deus a deu para que todos os que n’Ele crê não pereçam, mas tenham a vida eterna (João 3.16). E digo respeitosamente para todos os que estão sob os auspícios do bispo que repensem sua posição, se ficarão com as ilações de seu líder ou com a Palavra de Deus, que nos garante que é pela graça que somos salvos. Com esse acharque à graça de Deus, Macedo engrossa ainda mais a fila daqueles que a Bíblia chama de inimigos da Cruz (Filipenses 3.18).
Permaneçamos firmes na graça do nosso Senhor Jesus Cristo.
Ricardo Castro
Pastor da Igreja Bíblica Vida Eterna (IBVE).
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