Uma nota de esperança no cenário musical atual









Vizinha a minha casa há uma academia que diariamente toca músicas para suas turmas. E como o som é muito alto, não tenho como deixar de ouvir.

Suponho, que essas músicas devem ser as que estão no topo das listas das mais ouvidas atualmente. Mas acontece que chego a ficar com vergonha pela sua qualidade. Digo isso não apenas ao que tange à sua produção, mas também pelo conteúdo lírico. Nunca se viu na história do Brasil tantas músicas sem qualidade e com um conteúdo tão negativo.

Isso me inspirou a olhar o cenário musical atual. E a visão é trágica. As músicas de hoje são o reflexo de uma geração fútil e rasa. E minha principal preocupação é quanto ao poder que a música tem de influenciar as pessoas.

Só para termos uma noção do poder da música, todos os grandes movimentos sociais tinham músicas que os representavam. Desde a sinfonia de Richard Wagner que Hitler usava nos campos de concentração até a música “Caminhando e cantando” de Geraldo Vandré, que os subversivos comunistas usavam para dar significado a resistência ao regime militar brasileiro, as músicas sempre foram usadas como meio de manifestar a crença e os valores de um grupo social.

E nós mesmos temos períodos bons e ruins que são representados pela música. Da mesma forma sua onipresença é inegável, já que em qualquer lugar se pode escutá-la. Agora mesmo, enquanto digito essas palavras, um de meus vizinhos está escutando uma música no estilo “pisadinha”. E mais cedo, ao ir ao mercado, vi pessoas escutando músicas pela rua e havia música saindo do serviço de som do próprio estabelecimento comercial. E mesmo quando não há uma música tocando fisicamente, dentro de nossa mente há sempre uma melodia tocando. Não podemos escapar dela.

Tudo isso serve para mostrar a importância que a música possui. E diante do caos vigente no cenário musical, será que esse é um assunto periférico? Certamente que não.

O que encontramos no cenário musical de hoje?

Em primeiro lugar, encontramos músicas pobres instrumentalmente, que usam softwares para fazer o trabalho dos músicos de verdade. E isso faz com que as músicas fiquem padronizadas, já que quase todos os produtores eventualmente usam os mesmos softwares. Antigamente os músicos eram valorizados, sendo contratados para tocarem nas gravações. Mas hoje foram trocados por aplicativos que soam quase igual. Digo quase, porque nada substitui o trabalho de um músico, que coloca sua habilidade e emoção nas notas e grooves que tira de seu instrumento.

E muitas das músicas de hoje são tão pobres que necessitam de samples de músicas que fizeram sucesso no passado.

Mas não estou dizendo que todas as músicas antigas tinham instrumentistas excepcionais, mas pelo menos os tinham.

Outro dos malefícios no cenário atual é que redes sociais como o Tik Tok incentivam a produção de músicas que tenham menos de um minuto, para poderem ser carregadas nos seus feeds e story. A implicação disso é que as pessoas estão perdendo o interesse de escutar músicas maiores e mais bem elaboradas. E os artistas, por outro lado, estão produzindo cada vez mais músicas que se enquadram nos padrões atuais.

Por meio do serviço de som da academia, ouvi uma música bizarra, no estilo “bate-estaca”, que continha apenas um assobio. E as massas consomem isso como se fossem pérolas musicais. E o pior de tudo é que com a mesma força que essas músicas fazem sucesso, poucos meses depois somem como fumaça no ar, sem que sejam mais lembradas. Mas não poderia ser de outro jeito, já que músicas assim não tem conteúdo relevante para serem memoráveis.

Mas não podemos deixar de fora o conteúdo ofensivo de suas letras (quando elas existem). Essas, em geral, são de muito mal gosto. Usando linguagem obscena, as referências ao ato sexual são explícitas.

Isso me faz lembrar que em 1990 uma banda de Hip Hop dos EUA chamada de 2 Live Crow, teve o álbum “As nasty as they wanna be” processado por conter linguagem obscena. Os reclamantes do processo acharam 87 citações ao sexo em todo o álbum. Mas, acontece que atualmente, uma única música deve ter um número bem maior de citações obscenas. Mas não vemos mais nenhum desses lançamentos sendo processados, pois a premissa é que esse tipo de conteúdo é “expressão cultural”. Sem falar que seus autores geralmente retratam as mulheres como suas escravas sexuais. E o irônico é ouvir mulheres cantando e dançando essas músicas como se fossem compostas como um elogio a elas.

E os artistas atuais, em comparação aos do passado, compensam sua falta de talento com atributos corporais. Hoje existem artistas que fazem mais sucesso com sua região glútea do que com as suas músicas propriamente ditas. E as notícias sobre esses artistas, quase que totalmente são sobre polêmicas que eles se envolvem e não a respeito do seu talento musical, que é inexistente.

Com tudo isso, não quero dizer que no passado não havia música ruim. Ela sempre existiu. Mas o problema das músicas e artistas de hoje é que, em sua grande maioria, são pessoas vazias, fazendo músicas vazias para pessoas vazias. As músicas de hoje são mais apreciadas pelo seu beat do que pelo seu conteúdo. E quando há algum conteúdo, o que vemos é um desfile de futilidades nocivas.

Mas também não estou generalizando, pois hoje ainda há músicos e compositores habilidosos. Mas eles estão sendo soterrados por uma falange de pseudo artistas com seus softwares de última geração.

Até aqui, falei como músico que sou. Mas agora falarei como pastor.

Quais são as implicações de tudo isso na vida espiritual do povo brasileiro, especificamente dos cristãos?

O povo brasileiro, em geral, é caracterizado como uma gente sensualizada e marginalizada. E essas músicas vem apenas afirmar esse conceito. E os cristãos, aqueles que infelizmente consomem essas músicas, estão maculando as suas almas e consequentemente desagradando a Deus.

Na verdade, sou daqueles que insistem que os cristãos não deveriam ouvir músicas de artistas seculares. Mas como sei que hoje esse tipo de argumento é tido como retrógrado e inconveniente, digo a esses “cristãos” que pelo menos selecione melhor as músicas que deixam entrar em sua alma.

A Bíblia diz que a palavra de Deus é também ensinada por meio de música (Colossenses 3.16). E isso nos leva a entender que a música pode influenciar, tanto para o bem quanto para o mal.

Se um cristão ouve músicas com conteúdo que entre em atrito com os valores cristãos, certamente acabará cedendo aos reclames mundanos e consequentemente abandonando o cristianismo. Alguns poderão objetar que isso é exagero, mas artistas que eram cristãos no início, cederam ao mundo, como Aretha Franklin, Johnny Cash, Ray Charles, Elvis Presley, Mariah Carrey, Bob Dylan, Avril Lavine, Miley Syrus, Katy Perry e as bandas Paramore, Believer, As I Lay Dying, Kings of Leon, Evanescence, Run For Elijah, dentre muitos outros. Essas são alguns dos famosos que abandonaram o cristianismo em função da música, mas existe uma miríade de pessoas anônimas que o fazem diariamente. Isso mostra que com o tempo, as fortalezas que existiam na alma foram quebradas (negativamente) pelo poder da música.

Isto serve como alerta para tomarmos o máximo de cuidado com a fonte musical onde estamos dessedentando a nossa sede.

A grande verdade é que a música é uma expressão artística que se diferencia das demais. Isso porque todas as outras manifestações artísticas foram criadas pelos homens, mas a música foi criada por Deus antes mesmo da fundação do mundo.

O livro de Jó (38.7) nos diz que quando Deus colocou os fundamentos da Terra, os anjos cantaram. Isso nos mostra que a música já existia antes mesmo dos homens. E existem muitos outros textos bíblicos que nos mostra haver música constante no céu. E qual seria o conteúdo de suas letras? Será que os anjos falavam sobre seu cotidiano? Certamente que não. Com toda a certeza, o conteúdo lírico das músicas na corte celestial era apenas o louvor a Deus.

Diante disso entendemos que foi o Criador quem deu a música aos homens como um presente. Mas estes acabaram desvirtuando-a, quando a fizeram falar exclusivamente de seu cotidiano. Se toda música é um louvor, os homens passaram a louvar as coisas do seu dia a dia. E pior, a música também passou a ser usada na adoração a deuses falsos, fato facilmente constatado nos anais da história das mais diversas culturas espalhadas pelo planeta. Falo mais profundamente sobre isso no meu livro “Adoração & Arte” que está disponível nos sites da Amazon e do Clube de Autores.

Então, podemos afirmar que a música não é um assunto periférico. Antes, é um assunto de suma importância, já que ela foi criada por Deus para o seu louvor. Assim, não podemos contemplar o cenário atual e achar que é normal. Muito menos, como cristãos, consumir a música atual, pervertida como está.

Não podemos esquecer que a Bíblia nos diz que a música é um dos meios pelos quais nos enchemos do Espírito Santo (Efésios 5.18,19). E como poderíamos ser cheios do Espírito por meio de uma música profana? Como pode alguém que enche a sua alma todos os dias com músicas de conteúdo secular, profano e às vezes pervertidos, dizer que é cheio do Espírito Santo?

Infelizmente há alguns que acreditam que música é música, sem distinção de santa ou profana. E eu concordo que não existam um Dó maior cristão e outro profano. Entretanto, devemos entender que, via de regra, as músicas têm letras, e essas têm tanto propósitos como intenções. E essas músicas podem perfeitamente influenciar, como disse anteriormente. Sem falar que, entendendo que cada música é um louvor, se ela não louva a Deus, está desvirtuada de seu propósito.

Certa vez um “cristão”, que consome avidamente as músicas seculares, disse que prefere ouvir uma música profana, produzida por uma pessoa que talvez seja um toxicômano, do que ouvir uma música de um cristão, mas que contenha erros teológicos em sua letra. Sinceramente não consigo compreender tal lógica! Respondi a esse rapaz que, diferente dele, prefiro ouvir uma música com erros teológicos, mas que seja produzida por um artista cristão que está sendo ministrado pela Palavra de Deus, que pode fazê-lo demover de seus erros, do que escutar uma música feita por alguém que deliberadamente rebela-se contra Deus e reflete isso em suas letras.

Termino esse texto dizendo que a música é muito importante, pois ela foi criada por Deus e dada a nós como um presente seu. Por causa disso, a usemos de forma correta, louvando-O e exaltando Seu Nome.

Não preenchamos a nossa alma com músicas feitas por pessoas afastadas de Deus, que não tem ensinamentos salutares para nos ministrar e que usam suas músicas como reflexo de sua vida promíscua e profana. Que preenchamos nossas almas com louvores que nos enlevarão e pavimentarão o caminho para a nossa adoração ao Rei dos reis.

Não nos esqueçamos que a Bíblia diz que todos os ministérios passarão, mas a música perdurará eternamente.


Ricardo Castro
Pastor da Igreja Bíblica Vida Eterna.


Comentários

Postagens mais visitadas