O CONSUMISMO E NOSSO RELACIONAMENTO COM DEUS
Você já comprou alguma coisa que depois descobriu que não precisava dela? Confesso que esse fato já se repetiu muitas vezes em minha vida. Mas, na verdade, essa é uma realidade que tem se tornado cada vez mais frequente em todo mundo. Estamos vivendo na era do consumismo desenfreado. O consumismo é um comportamento marcado pelo consumo excessivo de bens, produtos ou serviços que, em última instância, são desnecessários. Esse comportamento é motivado pelo status, pelo marketing agressivo ou pela falsa impressão de felicidade que tal produto ou serviço supostamente proporciona.
Associado a isso está o crédito fácil, que permite que até pessoas de baixa renda possam possuir o que quiserem.
Outro fator que impulsiona o consumismo é a obsolescência programada. Isto é, hoje as empresas lançam produtos impressionantes, mas de curta duração, para que os consumidores comprem o modelo mais recente, logo após o anterior começar a dar defeito. Como exemplo posso citar os celulares que geralmente começam a dar defeito com um ano e meio de uso, enquanto novos modelos são lançados a cada seis meses em média.
E ainda há o apelo da pressão social que nos assola diariamente para que consumamos cada vez mais coisas, para nos assemelhar a nossos amigos e parentes. Isso porque fomos criados para vivermos em grupo, e muitas vezes o próprio grupo estabelece que devemos cumprir certos requisitos ou obter determinadas coisas para sermos aceitos.
Mas a ferramenta mais forte do consumismo atual é o Marketing cada vez mais agressivo. Diariamente somos bombardeados por propagandas que tentam nos convencer que ao consumirmos seus produtos, alcançaremos uma felicidade utópica. As imagens que nos são impostas são de pessoas com rostos felizes, como se a partir daquele ponto, tal pessoa viverá em Shangri-la. E hoje é até impossível assistir um vídeo no YouTube ou ouvir uma música em uma plataforma de Streaming se sem alcançado por essas propagandas.
Mas qual o real problema com o consumismo?
Sem sombra de dúvida, o problema mais comum com o consumismo é o endividamento. O crédito fácil pode dar acesso a produtos e serviços a qualquer pessoa, mas também faz com que muitas delas não tenham condições de honrar os compromissos assumidos. Ou seja, quando adquirimos mais do que podemos pagar, acumulamos dívidas. E o resultado é a falência e o estresse.
Por falar em estresse, esse é o resultado lógico do consumismo, pois é muito difícil estar em dia com todos os lançamentos e tendências. E, para aqueles que vivem dessa forma, é esmagador o sentimento de inadequação e insatisfação. Dessa forma, tudo isso culmina em crises de ansiedade ou até a depressão.
Mas o consumismo e a cultura do descarte ainda trazem outros problemas sérios. Dentre eles está o egoísmo, pois os bens que foram adquiridos e que se tornam obsoletos, via de regra, não são compartilhados com quem não tem. Mas, pelo contrário, vão ficando empilhados em algum canto esquecido da casa de seus donos até serem descartados. E isso acarreta outro problema sério, já que a maioria desses produtos são produzidos com materiais que agridem o meio ambiente, pois muitos deles possuem baterias que contém mercúrio, chumbo e cádmio, que poluem a água e o solo.
Até aqui temos visto sociologicamente os problemas do consumismo. Mas será que a Bíblia fala alguma coisa a esse respeito?
Ao contrário do que muitos pensam, a Bíblia tem muito a nos dizer a respeito desse assunto.
Em primeiro lugar, nosso Mestre disse que não deveríamos colocar nossas esperanças em coisas materiais, os quais são facilmente consumidas pelo tempo. Mas, pelo contrário, deveríamos entesourar nos céus (Mateus 6:19-21). Isso nos mostra claramente que a felicidade de um cristão verdadeiro não está nas coisas que ele pode acumular nesta vida, mas sim no que ele alcançará nas mansões celestiais. Por si só, isto já deveria ser suficiente para que os cristãos vivam de forma simples e sem excessos. Mas Jesus também nos advertiu que “a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lucas 12:15).
Os dois textos citados acima são suficientes para podermos viver à parte do consumismo. Mas a dura realidade é que o consumismo também atingiu a igreja de forma avassaladora. E hoje existem igrejas e ministérios que incentivam seus membros a almejarem o acúmulo de bens, pois para eles, a marca da bênção de Deus sobre os crentes é a quantidade de “conquistas” materiais que eles possam abocanhar. Isso porque essas igrejas valorizam o sucesso financeiro e o materialismo. Inclusive, nessas igrejas não há nenhuma forma de adoração, mas apenas rituais, campanhas e correntes que são uma forma de se conseguir o que se quer. E as pessoas que frequentam essas igrejas sentem-se pressionadas a viverem além de suas posses reais, para poderem ser considerados pessoas que têm sido abençoadas por Deus.
Na contramão dessa cosmovisão, Jesus deixou bem claro que não devemos afligir nossas almas com as dores do consumismo. Mas, pelo contrário, Ele disse “não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6:31-33). Em outras palavras, não devemos estar em busca de acumular bens, como os gentios, mas devemos, antes de tudo, estar envolvidos com o Reino de Deus e Sua Justiça. E na medida que necessitamos, Ele irá provendo o que é necessário.
Nosso irmão João Batista nos ajuda a ver o que devemos fazer com os bens que possuímos, quando disse “quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo” (Lucas 3:11).
E os cristãos que ignoram essas advertências entram na estatística daqueles que estão cumprindo as palavras do Apóstolo Paulo, que disse “alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (1ª Timóteo 6:10).
Entretanto, como podemos viver de forma responsável?
Em primeiro lugar, devemos viver o chamado “consumo consciente”, que consiste em repensarmos nossas práticas de consumo não apenas ao que tange ao meio ambiente, mas também quanto a necessidade do que estamos adquirindo. Se antes de comprarmos qualquer coisa nos perguntarmos se a aquisição é realmente necessária, certamente não cairemos no extremo do consumismo.
O consumo consciente também leva em conta se o que adquirirmos poderá ser partilhado com o próximo. Afinal de contas, Jesus disse que o mandamento de amar o próximo tem peso igual ao de amar a Deus sobre todas as coisas (Mateus 22:37-40).
Em segundo lugar, devemos buscar viver vidas mais simples e conscientes, sempre levando em conta que os bens materiais nunca poderão prover a felicidade e a segurança da salvação.
Entretanto, peço que o leitor não pense que estou apregoando uma pobreza franciscana. De forma alguma. Não temos como desprezar a realidade de que temos que consumir bens e produtos. Hoje em dia isso é impensável. Mas o que expressei nessas breves linhas teve como objetivo a reflexão a respeito de onde está o nosso tesouro, pois é nele que está o nosso coração (Mateus 6:21)
Ricardo Castro
Pastor da Igreja Bíblica Vida Eterna (IBVE)
Nos falta conhecer a fundo as escrituras para não cairmos nas armadilhas desse mundo moderno
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