CELEBRAR O NATAL, PODE? | PR. RICARDO CASTRO

 



CELEBRAR O NATAL, PODE?

Quando as pessoas falam de Natal, por causa da tradição centenária, vem a nossa mente presentes, panetone, árvores com bolinhas penduradas, um jantar farto e, sobretudo, a figura bonachona de um velhinho caridoso, vestido de vermelho, que chamam de Papai Noel.

Mas os cristãos, além de tudo isso, celebram o nascimento de Jesus e, inclusive, alguns usam os símbolos da árvore de natal, guirlandas e velas. Mas, o que muitos não sabem é da origem pagã dessa festividade, que foram gradativamente incorporadas ao contexto cristão ao longo dos séculos.

Meu objetivo ao escrever essas linhas é o de trazer a lume se o ato de realizar essa celebração é lícito ou não para os cristãos bíblicos. E se, em caso positivo, deve-se usar os mesmos símbolos pagãos que foram incorporados a esta celebração.

Antes de tudo, devo dizer que a Bíblia dá indícios fortíssimos de que devemos sim celebrar o nascimento de Cristo. Isso porque os anjos anunciaram a pastores que estavam no campo que o Messias havia nascido, e eles trataram de ir adorá-Lo. E os próprios anjos também celebraram com um coro celestial (Lucas 2.8-20). Ademais, sábios do oriente também vieram de uma terra longínqua para celebrar o seu nascimento, apesar de que, por causa da distância, tenham chegado com pelo menos dois anos de atraso (Mateus 2.1).

Por tudo isso, julgo que encontramos eco nas Escrituras para a celebração do nascimento de Jesus. Contudo, surge alguns questionamentos.

Devemos celebrar o nascimento de Jesus no dia 25 de dezembro? Podemos usar os símbolos natalinos de hoje?

Em primeiro lugar, devemos entender que com toda a certeza, Jesus não nasceu no dia 25 de dezembro. Na verdade, nenhum dos teólogos tanto do passado quanto do presente conseguiram chegar a um consenso a respeito da data de seu nascimento. Mas, podemos ter a certeza de que não foi em dezembro, pois nessa data Israel é castigado por um severo inverno. Ora, se Ele tivesse nascido no inverno, os pastores não estariam com os seus rebanhos no campo (Lucas 1.8). Dessa forma, ainda que não saibamos ao certo a data do nascimento de Jesus, podemos dizer com toda certeza que não foi em dezembro.

Mas, como foi que chegaram nesta data em dezembro? Para que eu possa responder a esta pergunta, tenho que remeter ao ano 312 D.C., data em que o imperador romano Constantino declarou o cristianismo como a religião oficial do império. E como Constantino tinha muitos súditos pagãos, decidiu introduzir muitos de seus costumes dentro do cristianismo. Daí surgiu a adoração a imagens, adoração a rainha do céu, oração pelos mortos, a figura do Pontifex Maximus (que passou a ser conhecido como Papa), dentre outras práticas pagãs abomináveis. Mas a prática que nos interessa é a festividade do Solstício de inverno. Ele é um evento astronômico que marca o início do inverno no hemisfério norte e que inicia-se em 21 de dezembro. Esse evento era um ponto crucial para os povos antigos, que o encarava com o fim de um ciclo e a esperança de um novo. E assim, eles viam isso como uma promessa de renovação. E nessa ocasião, muitas divindades eram adoradas e principalmente o deus sol que, para eles, renovava-se nesse período. E como Constantino estava buscando “cristianizar” esses costumes, começou a celebrar o nascimento de Jesus, o Deus Sol, em meados de dezembro. Mas foi apenas no século XIII que o papa Julio I decretou que o nascimento de Jesus deveria ser celebrado no dia 25 de dezembro, apesar de que informalmente esta data já vinha sendo celebrada. Coincidentemente (ou não) os nórdicos celebravam o nascimento do deus do trovão neste dia.

Outra festividade dos povos antigos celebrada em dezembro era a saturnália dos romanos. Nesta festividade eles adoravam o deus Saturno, dando grandes banquetes, trocando presentes, perdoando rusgas antigas, dívidas esquecidas. Será que temos alguma semelhança com o natal atual?

Outro festival que se assemelhava muito a Saturnália era o Yule dos Germanos, que era quando eles adoravam os deuses Odin e Thor.

Por falar em Thor, na mitologia germânica ele era o deus do trovão, e tinha uma árvore chamada de Yggdrasil, que fazia ligação entre Midgard (a Terra) e Asgard (o mundo dos deuses). No dia 25 de dezembro, no festival Yule, eles costumavam colocar presentes e bolos de mel debaixo da árvore de Thor, como forma de agradecimento pelas colheitas fartas e as vitória nas guerras.

Os povos antigos também costumavam celebrar o solstício de inverno pendurando vegetações verdes em suas casas, representando a fertilidade que se renovava naquela data, e também usavam velas coloridas para celebrar o sol que estava se renovando. Será que há algum paralelo com a decoração natalina de hoje?

Vemos claramente que, ao cristianizar esses costumes, o imperador Constantino trouxe para a igreja muitos costumes pagãos danosos que macularam a pureza do cristianismo.

E quanto ao tão famoso Papai Noel? Na realidade ele era um bispo da cidade de Mira, na Ásia Menor, e seu nome era Nicolau. Ele recebeu muita notoriedade por ser uma pessoa extremamente caridosa, especialmente às crianças e desvalidos. Sua fama de distribuir presentes de forma anônima foi a gênese do mito do Papai Noel. O interessante é que inicialmente o Papai Noel (Santa Claus para os americanos) era representado com vestes de diversas cores, mas principalmente da cor verde. Mas, por volta de 1930, a Coca-cola fez uma campanha em que colocou sua roupa na cor vermelha para fazer um paralelo com sua marca. E desde então, o Papai Noel é representado todos os anos vestindo vermelho.

Por tudo que falei até aqui, podemos ver que o Natal hodierno sofre grande influência dos costumes pagãos.  E por causa disso devemos nos perguntar se é lícito um cristão celebrar o Natal ou não.

Recentemente assisti um vídeo de um pastor que chamou de herege os pastores que celebram o Natal. Bom, isso é muito extremo. Como disse no começo desse texto, há respaldo bíblico para que celebremos o Natal. Entretanto, defendo que se deva fazê-lo da maneira certa.

Em primeiro lugar, esses símbolos natalinos, que são representações de manifestações da religiosidade pagã, não deveria ser utilizado por nós, cristãos. Usando uma analogia do mundo dos esportes, seria a mesma coisa que um torcedor do Vasco, no dia do aniversário do Flamengo, hastear em sua sala uma bandeira desse clube. Ou, usando um exemplo do mundo da política, seria a mesma coisa que um esquerdista usar as cores e elementos dos direitistas. E assim por diante. Dessa forma, usar árvores de natal, guirlandas, velas e etc, é macular a santidade dessa data tão linda e cristã.

E o que falar do Papai Noel? Sei que ele teve suas origens em um homem generoso, que dava presentes anônimos às crianças e aos necessitados. Todavia, há de se perceber que o foco deste personagem tem a clara intenção de eclipsar o nascimento de Jesus Cristo, o Deus Eterno, Todo-Poderoso. E assim, cristãos que tenham imagens desse personagem estão anuindo às tradições do mundo.

Durante os séculos, a tradição vem influenciando esta festividade, e diz-se até que foi o reformador Martinho Lutero o primeiro a distribuir às pessoas os presentes que ficavam ao pé da árvore de natal. Se isso ele fez, devemos entender que em seus dias, tudo isso era muito normal, devido à tradição católica de onde ele saiu, mas que em certos aspectos, ainda permaneceu viva nele por muitos anos.

Para concluir, todos os anos em nossa igreja celebramos o Natal. E por causa disso, alguns de meus amigos já me chamaram de contraditório, uma vez que falo contra, mas celebro o culto. E antes que o  dileto leitor faça coro com eles, devo dizer que em nossa igreja, esse culto tem um caráter totalmente evangelístico. Nosso modo de pensar é, se um “incrédulo” pensa em ir a igreja algum dia, qual dia melhor do que o Natal? Portanto, todos os elementos desse culto em nossa igreja, tem como objetivo apresentar Jesus, o Deus Conosco, que se fez carne para pagar o preço do nosso pecado.

Digo também que é muito perigoso quando adotamos certas práticas mas não questionamos suas raízes e nem a sua legitimidade. E infelizmente isso é mais comum do que pensamos, haja vista a quantidade de práticas espúrias ao verdadeiro cristianismo, que pululam em nosso meio sem qualquer critérios. E para nos certificarmos se estamos praticando algo que é verdadeiramente importante para os cristãos, não é necessário muita coisa. Basta ter conhecimento bíblico e ter a ação de pesquisar. Por exemplo, quase tudo o que escrevi neste texto foi encontrado por meio de uma rápida pesquisa no Google e comprovada pela história e pela Bíblia.

Mas finalizo incentivando aos amados irmãos em Cristo a celebrarem o Natal, mas da forma correta, apresentando Jesus como o Deus que humilhou-se para nos dar vida. Feliz Natal a todos!

Pastor Ricardo Castro

Igreja Bíblica Vida Eterna (IBVE)


Comentários

  1. Em primeiro lugar, parabenizá-lo Pastor Ricardo por tão rica interpretação acerca do assunto.
    Em segundo lugar, dizer-lhe que concordo com o seu ponto de vista, porque também assim penso...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

DEIXE SEU COMENTÁRIO AQUI

Postagens mais visitadas