PASTORES LOCAIS - OS VERDADEIROS HERÓIS DA FÉ | Pr. Ricardo Castro





PASTORES LOCAIS - OS VERDADEIROS HERÓIS DA FÉ



Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver.



Hebreus 13:7



Recebi o Senhor Jesus como o Salvador no ano de 1992. E naquela época, haviam muitos eventos como conferências, congressos, semanas de estudos Bíblicos e tantas outras programações, que não dava para participar de todas. E foi em alguns desses eventos em que tive grandes experiências que me marcaram de forma indelével. E por volta de 1993, em um desses eventos, tomei conhecimento dos chamados “Pastores itinerantes”. Até então, conhecia apenas os pastores das igrejas locais. Mas os itinerantes eram homens que dedicavam suas vidas a andar de evento em evento pregando a Palavra de Deus.

Naqueles dias, só o fato de ouvir que alguém era um “Pastor itinerante”, já passava a desfrutar do meu apreço. Por causa disso, empreendia todos os esforços para estar nos eventos que tinham como preletores os mais aclamados pastores itinerantes.

Naquele tempo, a mídia mais fácil de ser distribuída era a fita cassete, e os pastores itinerantes usavam e abusavam desse meio. E eu, fascinado como era, comprei muitas dessas fitinhas e as escutava à exaustão. E como sou um consumidor voraz de livros, queria muito comprar obras literárias deles. Mas eles se restringiam apenas às fitas, salvo um deles que lançou quatro livretos de bolso contendo seus sermões. E eu, como era de se esperar, comprei todos.

Contudo, tinha a sensação de que, como todo tipo de moda, essa também passaria rápido. Porém, com o passar dos anos, esse quadro não mudou, mas pelo contrário, se intensificou. Os itinerantes hoje são reverenciados e considerados como estrelas gospel, principalmente os pentecostais. Eles são considerados assim pela forma diferenciada como ministram suas pregações e pelos tipos de emoções (muitas vezes histéricas) que conseguem arrancar do público.

Hoje eles são tão requisitados que os eventos são programados segundo as vagas de suas agendas e não o contrário, como era décadas atrás.

Todavia, algumas coisas mudaram. Em primeiro lugar, nos anos 1990, sabíamos que muitos desses pregadores não cobravam cachês, que hoje se chama de “oferta”. Hoje em dia já não é mais assim. Os itinerantes não saem de casa sem que pelo menos metade da “oferta” esteja depositada em sua conta, e com a certeza que o restante será depositado logo após o evento.

Naqueles dias, o número de itinerantes não era muito grande. Mas hoje existe um leque tão diverso de pregadores que é até difícil escolher um. Por causa disso, tempos atrás foi colocado no ar um site em que estavam cadastrados pregadores de todos os tipos e confissões, para que organizadores de eventos pudessem convidá-los (leia-se contratá-los). Porém, em tempos mais recentes, esse site caiu em desuso, pois os itinerantes contrataram escritórios que lhes assessoram.

E tem pregador para todo gosto! Existem pregadores de Cura interior, da prosperidade, ex-macumbeiro, ex-gay, ex-matador, pregador de batalha espiritual, da cura de doenças, da harmonia conjugal, pregadores coach e aqueles que são especialistas em criar analogias esdrúxulas. Existe até pastores que fazem de suas pregações verdadeiras seções de comédia Standup.

Outra coisa que também mudou foi o valor da “oferta”. Como disse antes, décadas atrás, haviam pregadores que não cobravam, mas confiavam que o Senhor lhes proveria a sobrevivência. Naqueles dias, ficava a cargo da igreja abençoar ou não o pregador com ofertas. Hoje, entretanto, os valores das “ofertas” variam de R$ 200 para os iniciantes e inexpressivos a R$ 7.000 para as estrelas dos púlpitos, ou como costumam apelidá-los, os “Príncipes pregadores”. E o absurdo é que cobram para pregar o Evangelho que receberam de graça (Mateus 10:8). Porém, eles só cobram porque existe quem pague os valores estipulados. Portanto, a culpa não é apenas deles.

Um amigo que conseguiu um emprego como motorista de um desses “príncipes pregadores” de renome nacional, disse-me que ele lhe confidenciou que suas pregações lhe rendiam mensalmente de R$ 30.000 a R$ 40.000 mensais, com os quais podia adquirir mimos caros para sua esposa, como uma bolsa no valor de R$ 5.000.

Mas, o que pregam essas estrelas itinerantes? Bom, eles tem mensagens que se adéquam a todo gosto. Existem os que ministram mensagens mais austeras para platéias legalistas. E esses mesmos também pregam mensagem no estilo “Hiper graça” para audiências mais “Love”. Existem aqueles que pregam mensagens de autoajuda, no estilo coach, que fazem as pessoas saírem dos eventos se sentindo verdadeiros deuses. Já outros que são parte do “underground” pentecostal, entregam revelações e visões, revestidos de todo o estereótipo místico que agrada aqueles que integram esse grupo. Mas, resumindo a teologia dos pastores itinerantes, eles pregam o que o povo quer ouvir, independente do que Deus quer que eles ouçam.

E os testemunhos pessoais dos itinerantes de hoje, é um capítulo à parte.

Com a premissa de que ninguém pode “tocar no vaso” ou contradizer o “ungido”, os pregadores de hoje, salvo raríssimas exceções, vivem vidas duplas. Muitos deles cospem dos púlpitos mensagens “poderosas” sobre santificação e consagração. Entretanto, são consumidores das mais diversas bebidas alcoólicas e/ou drogas ilícitas. Sem falar que são assíduos freqüentadores de motéis, acompanhados de figuras anônimas. E não é muito difícil comprovar isso, haja vista os grandes escândalos veiculados na mídia televisiva e nas redes sociais.

A grande verdade é que muitos eventos cristãos viraram comercio, e ser pastor itinerante virou um grande negócio. E esses eventos são também plataformas que catapultam a popularidade dos pregadores, levando alguns deles, inclusive, à carreira política.

Por exemplo, existe um evento em Camburiú, Santa Catarina, que era extremamente reverenciado pelos pentecostais como a apoteose de um pregador. Esse evento era tão respeitado, que alguns dos itinerantes, ao invés de cobrar para dar o seu show pentecostal, pagavam a bagatela de R$ 16.000 para pregar no evento principal. O objetivo disso era alavancar seu ministério, já que depois dessa empreitada, eles eram considerados como se estivessem em outro nível. E isso fazia com que sua agenda ficasse abarrotada.

Entretanto, devido aos grandes escândalos envolvendo tanto os pregadores quanto a liderança, esse evento não desfruta mais do mesmo prestígio. Contudo, ainda existem outros eventos em que os pregadores e pregadoras itinerantes podem apresentar seu canto da sereia e encantar os incautos que continuam a pagar suas altas “ofertas” para terem seus egos massageados.

E como eu disse no início desse texto, nos dias seminais de minha vida cristã, eu era fascinado pelos pregadores itinerantes, influenciado pelos irmãos que me cercavam. Eu os considerava como heróis da fé, que aviam ascendido a um nível atingido por poucos. Mas, os anos de experiência me fez ver quem são os verdadeiros heróis da fé. A maturidade espiritual me fez reconhecer que os pastores das igrejas locais são os verdadeiros heróis. Eles são, em sua grande maioria, verdadeiros homens de Deus abnegados, que estão fazendo história e edificando a obra de Deus nos recantos mais insólitos de nossa nação.

Mas, infelizmente os pastores locais não são reverenciados como os “príncipes pregadores”. Na verdade, mesmo cuidando das feridas das ovelhas, doloridas e profundas, seu trabalho não é reconhecido. Esses pastores, mesmo empregando suas forças e talentos em tempo integral, recebem parcos salários que às vezes mal dá para a sua sobrevivência.

Conheci certo homem de Deus que era pastor no interior do Estado da Paraíba, que quando os recursos para a reforma da igreja findou, ele vendeu seu único veículo para comprar o que faltava para concluir a obra. Todavia, ao término do trabalho, quando a igreja estava linda como deve ser, seu pastor presidente, um dos que figurava entre as estrelas dos púlpitos, o remanejou para outra congregação mais humilde e sem qualquer aviso prévio.

Muitos dos pastores locais, mesmo não sendo reconhecidos pelo que fazem, descuidam de sua família para cuidar da família dos membros da igreja. Muitos deles abandonam momentos de lazer e de descanso para proporcionar alívio aos crentes. Sem falar que eles têm que ser ao mesmo tempo psicólogos, contadores, administradores, apaziguadores, conselheiros de casais e etc, mesmo sem o treinamento necessário. Isso não porque sejam anti-intelectuais, mas porque não tem tempo e nem dinheiro para pagar as mensalidades de um seminário.

Os membros da igreja nem desconfiam que às vezes esses pastores estão dirigindo cultos com sua alma dilacerada por problemas diversos e/ou por situações contrárias que surgem em sua família. Mas mesmo assim, eles dispensam bênçãos espirituais para os membros de sua igreja, que nem ao menos perguntam se o pastor teve o que comer naquele dia.

Esse mesmo pastor é amigos de todos, mas conta nos dedos os amigos com que pode contar, quando os tem. Eles raramente têm alguém que lhe escute os problemas, mas perdem incontáveis horas escutando os problemas mais fúteis dos irmãos.

Eles é que são os verdadeiros heróis pois, ao contrário dos itinerantes que ministram suas mensagens, pegam suas ofertas e se vão, os pastores pregam para as mesmas pessoas anos a fio. Pessoas essas que conhecem tanto suas virtudes quanto as suas falhas. E além disso, os pastores precisam manter o seu testemunho ilibado, pois são homens de Deus e querem ter a autoridade de um bom caráter para ministrar a Palavra de Deus, quando os itinerantes vivem de forma descuidada, pois o povo que paga suas ofertas, não os conhecem.

Ao contrário dos itinerantes que poucos sabem onde moram, a casa dos pastores locais, via de regra, está sempre cheia, limitando a sua intimidade. E muitas vezes as pessoas que costumam freqüentar a sua casa, são os mesmos que deflagram os comentários mais mordazes sobre a sua família.

Os “príncipes pregadores” desfrutam de contas bancárias recheadas e podem comprar tudo o que lhes proporciona conforto, enquanto que os pastores locais lutam diariamente pela sua subsistência, tendo que sobreviver com salários esqualidos. E quando conseguem adquirir qualquer bem, muitos dos membros da igreja desconfiam que eles estão desviando dinheiro. E dessa forma, passam a sonegar o dízimo, quando não os dilatam (sem fundamento) para os presidentes da denominação. O interessante é que os pastores que não possuem um veículo é tido como alguém que não é abençoado por Deus. Mas, quando consegue obtê-lo, desconfiam de seu caráter. Já vi isso acontecer algumas vezes.

E os presidentes das denominações não querem saber a quantidade de vidas restauradas por meio do ministério do pastor local. Eles não medem o desempenho dos pastores pela quantidade de vidas salvas e quantas tragédias foram evitadas. Eles mensuram o ministério do pastor local pela quantidade de dinheiro que eles remetem a igreja sede.

Esses presidentes, ao invés de serem guias e conselheiros para os pastores locais, são mais parecidos com cobradores de impostos ou SEO de corporações comerciais, que impõem metas financeiras para as suas afiliadas.

E qualquer coisa que o itinerante diz nos púlpitos é recebido com muita reverência pelos membros das igrejas, mesmo que suas palavras não encontrem eco nas Escrituras. Mas os pastores locais tem suas pregações dissecadas para encontrar qualquer erro. Sem falar que, se o pastor costuma estender suas pregações, é prolixo e monótono. E se ele decide ser mais sucinto, é tido como paupérrimo e superficial.

Oro constantemente por estes homens de Deus, no meio dos quais meu nome está arrolado. Oro não para que se tornem estrelas dos púlpitos ou “príncipes pregadores”, mas para que sejam mananciais da verdade Divina e guardiões da verdadeira Doutrina Bíblica. Oro para que, mesmo diante da desconsideração do grande público gospel, eles possam ser profetas ousados em meio a uma geração de “animadores de púlpito”, que só querem encher seus bolsos de dinheiro e sua cara de álcool.

Nossa nação não precisa de mais “príncipes pregadores” ou novos “Gideões da última hora”. Mas precisa de arautos do Noivo, que proclamem os Oráculos de Deus de forma incansável.

Se você, dileto leitor, figura entres os aspirantes a estrela, não se zangue comigo, pois como profeta de Deus, tenho que pregar a verdade e mostrar o caminho. Mas se seu nome está elencado entre os heróis da fé, que têm gastado seus dias no altar de Deus, pode contar com minha oração e minha consideração.

Sei que são poucos os que nos reconhecem como verdadeiros homens de Deus. Mas temos que tem em mente que no dia da prestação de contas ouviremos: Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. Mateus 25:21



Pastor Ricardo Castro

Igreja Bíblica Vida Eterna (IBVE)




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