COMO MANTER A PAZ EM TEMPOS CONTURBADOS?




COMO MANTER A PAZ EM TEMPOS CONTURBADOS?

Romanos 12:18

Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens.



Vivemos num tempo de muitas contendas. Hoje é raro conhecer uma pessoa que não tenha entrado em discussões acaloradas pelo menos nos últimos 90 dias. Isso acontece porque as pessoas hasteiam a bandeira da sua verdade e a defendem com unhas e dentes.

Nessa era relativista, as “verdades” ocasionalmente colidirão. E como a arrogância permeia essa geração e já que cada pessoa se acha especialista em assuntos que na verdade ignoram, as contendas são inevitáveis.

E para corroborar com este quadro funesto, temos as redes sociais, que são os ringues onde os embates têm sido travados. E os combates têm sido homéricos, chegando ao ataque pessoal.

Usemos como exemplo o Facebook, que oferece ao usuário um espaço onde a plataforma mesmo nos incita a que postemos o que estamos pensando. A ideia é muito interessante, porém basta fazer isso para logo em seguida surgir algum “especialista” contradizendo nossas palavras e trazendo algum tipo de “solução” mais viável ao que escrevemos. E é assim que acontece em todas as redes sociais hoje e é assim que se inicia as confusões.

E o interessante é que se você não seguir o fluxo, isto é, dar uma resposta à altura, é taxado de covarde. Mas, se por outro lado você fincar o pé e manter seu pensamento, dependendo da repercussão que a contenda teve na rede social, é bem provável que você esteja na iminência de sofrer um cancelamento.

E assim os contendeiros vão saciando seu vício por contendas, envolvendo o máximo de pessoas que estiverem arroladas na lista de seus seguidores.

Há pessoas que não vivem sem uma contenda diária. Parece que já acordam esfregando as mãos e lambendo os lábios, ávidos pela confusão do dia. E com sorte, conseguirá o cancelamento de um pobre coitado que apenas postou uma frase. Os tempos são conturbados!

Mas, diante disso, devemos nos perguntar qual deve ser a postura de um cristão genuíno e quais as medidas profiláticas que devemos tomar para manter a paz.

No versículo exposto no início deste texto, o Apóstolo Paulo diz “se depender de vós”. Portanto, há algumas medidas que podemos tomar para manter a paz. Vamos a elas.

Como manter a paz em tempos conturbados?

Em primeiro lugar, devemos pensar muito antes de tecer qualquer comentário. Veja o que nosso irmão Tiago escreveu:

Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. (Tiago 1.19).

Uma das coisas que mais suscitam contendas é falar sem ouvir. Isto é, na maioria das vezes entramos em grandes confusões porque tiramos conclusões precipitadas.

Há pessoas hoje que se parecem com o Google, que antes mesmo de terminar a frase a ser pesquisada, já oferece pelo menos uns dez resultados. Mas o conselho de Tiago é “seja pronto para ouvir”. Isso quer dizer que devemos ouvir mais e falar menos. O fato de o Criador ter nos dado dois ouvidos e apenas uma boca já deveria nos dar a proporção de como devemos agir.

A grande verdade é que temos de aprender o que é oitiva empática. A oitiva empática é quando escutamos com toda atenção o que nosso interlocutor está falando, sem que já estejamos formulando uma resposta. Se tivermos uma atitude assim, certamente 90% dos conflitos nunca existiriam. Ou seja, nossa prática deveria ser falar apenas depois de refletirmos o que ouvimos e termos a resposta adequada. É exatamente o que Tiago quis dizer com o “Tardio para falar”.

Mas, e se mesmo assim formos provocados? O conselho bíblico é que se formos provocados, não devemos revidar.

Muitas pessoas gostam de provocar os outros através das redes sociais. Isso acontece em grande parte porque é muito fácil confrontar alguém estando por trás de um teclado. No passado, as contendas eram bem piores porque eram presenciais e muitas vezes acabavam em agressão física. E esse era o fator decisivo para que as pessoas pensassem bem antes de provocar os outros. Mas nesta era virtual, ficou bem cômodo insultar as pessoas na segurança de seu lar, por trás da tela de um computador. Desse jeito, hoje qualquer um é valente.

Na atualidade existem diversos termos que designam uma pessoa dessas. Ele pode ser um Stalker. Ou seja, um perseguidor que não deixará em paz os seus desafetos, provocando-os de todas as formas possíveis, dando deslikes e fazendo comentários jocosos nas suas postagens.

Mas também pode ser um Hater. Ou seja, um odiador que tece comentários transbordantes de ódio nas postagens que não são do seu agrado. Não raro esses haters incitam outros a odiarem também. E hoje isso é até uma tarefa fácil, já que impera entre nós o espírito de manada. Isto é, a grande maioria seguirá o primeiro hater que teceu o comentário odioso, mesmo que os demais tenham baseado suas conclusões apenas no primeiro comentário e não na realidade do fato. Em alguns casos ficamos sabendo de pessoas que foram vítimas de agressão física devido a comentários de um hater. Isso é um absurdo!

Um hater não consegue dormir se não causar algum mal-estar nas redes. E se formos alvos de um stalker ou de um hater, o conselho bíblico é “Não revidar”. Observe o que nos diz o sábio rei Salomão:

Sem lenha, o fogo se apaga; e, não havendo maldizente, cessa a contenda. (Provérbios 26:20).

Há um ditado popular que corrobora com este provérbio: Se um não quer, dois não brigam.

A verdade é que é melhor perder aqui na terra e ganhar no céu. Em outras palavras, é melhor ser tido como um covarde por não revidar e assim cumprir o que a Bíblia nos manda, do que ser um valente, que perdeu o seu direito ou pior, que suscitou uma confusão ainda maior.

Foi o sábio Salomão quem também disse que é melhor um cão vivo do que um leão morto (Eclesiastes 9.4).

Porém há situações em que, mesmo que nos resguardemos de revidar as ofensas, ficamos com raiva. O que fazer nesses casos?

A Bíblia é clara em dizer que, se não conseguimos conter a raiva, o melhor a se fazer é retirar-se para não deixar a raiva desembocar em um turbilhão de acontecimentos danosos.

Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo (Efésios 4:26,27).

A verdade é que Deus nos fez seres dotados de emoções, e por isso, tudo o que fazemos as envolve.

Mas não pensemos que as emoções são coisas ruins. Elas nos foram dadas como presentes pelo Criador, e tudo o que vem dele é bom (Tiago 1.17). Mas ainda que as emoções sejam presentes de Deus, devemos saber como usá-las. Por exemplo: o medo nos foi dado por Deus como um meio de preservar a nossa vida. Quando estamos em perigo e ficamos com medo, a adrenalina toma conta do nosso corpo e todos os nossos sentidos ficam aguçados. Cheiramos mais, ficamos mais atentos, nosso tato fica apurado, etc. Entretanto, ser dominado constantemente pelo medo é prejudicial. Assim, precisamos aprender a lidar com as nossas emoções e especificamente a raiva. Se não conseguimos conter a raiva, o melhor a se fazer é retirar-nos.

Mas, e se não conseguirmos controlar a raiva e acabar revidando?

Bom, nesse caso a melhor coisa a fazer é estarmos prontos para pedir perdão. E isso não é fácil, principalmente nos nossos dias, em que as pessoas acreditam que cultivar um caráter arrogante é preferível do que ter que pedir desculpas. Essas pessoas, inclusive, acreditam que pedir desculpa é sinal de fraqueza. Ou seja, para eles, quem pede desculpa está assumindo a culpa e, assim, sendo fraco.

Contudo, não somos como as outras pessoas. Somos cristãos. E para nós, quando se apresenta uma situação em que perdemos a cabeça e falamos ou agimos de forma grosseira, temos diante de nós apenas duas opções. Ou agimos como os outros e permanecemos na nossa “razão”, ou agimos como cristãos e nos dispusemos a pedir perdão. Foi Jesus quem disse as palavras seguintes:

Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta (Mateus 5:23,24).

Todavia, se mesmo tomando todas as medidas pacifistas que citamos, e ainda assim formos feridos, o que devemos fazer?

No bojo dos valores do mundo, está valendo a lei do “olho por olho e dente por dente”. Assim, quando as pessoas são feridas, elas invariavelmente ferem os outros. Mas o cristianismo é uma contracultura e por isso, quem é cristão não faz parte do sistema vigente e não tem as mesmas atitudes de uma pessoa comum.

Devemos tomar como exemplo o Senhor Jesus, que mesmo injustamente ferido e crucificado, disse: “Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem” (Lucas 23.34). E quando Pedro o negou por três vezes, Jesus disse que ele deveria pastorear suas ovelhas (João 21.16). E mesmo Judas tendo-o traído com um beijo, Jesus o chama de amigo (Mateus 26.50). Logo, se somos imitadores de Cristo, devemos agir da mesma forma. Portanto, se mesmo que tenhamos tomado todas as medidas para manter a paz, e as pessoas insistam em nos insultar, maltratar e ferir, por sermos cristãos devemos perdoá-los.

Os mais fortes não são os que revidam, mas os que se contém. E MAIS FORTES AINDA SÃO OS QUE PERDOAM!

Perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou (Efésios 4:32).

Qual a recompensa de tomarmos todas essas medidas profiláticas para manter a paz?

O Senhor promete que os “pacificadores” serão chamados de Filhos de Deus (Mateus 5.9). Assim, fomos chamados para sermos pacificadores e a recompensa é que nos tornamos filhos de Deus.

Então, para que possamos manter a paz em tempos conturbados, devemos pensar antes de falar, não revidar e nos retirar se não conseguirmos conter a raiva. E se não formos capazes de reprimir a raiva, devemos ser fortes para pedir perdão. E se mesmo assim nos ferirem, sejamos mais fortes ainda para perdoá-los.

Sejamos cristãos.

Ricardo Castro
Pastor, Escritor, Músico e Doutor em Teologia

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