O MAL DE VIVER QUERENDO AGRADAR A TODOS

O sentimento de pertencimento é uma das necessidades fundamentais dos seres humanos. Deus nos criou como seres gregários e por isso nos sentimos realizados quando estamos em grupo e somos aceitos pelas pessoas. Dessa forma, é natural que, para nos encaixarmos no grupo, tentemos agradar aos seus membros. Entretanto, o grande perigo está quando o desejo de agradar chega a níveis extremos, transformando-se em uma prisão. Isso acontece porque tememos a rejeição e o julgamento. E essa busca intensa pela aprovação tem consequências negativas para nossa saúde mental e espiritual, pois não apenas perdemos a liberdade, mas também a autenticidade. Levando em conta esse perigo, decidi escrever sobre os efeitos negativos de viver em busca da aprovação alheia.

Uma das primeiras consequências negativas de quem vive buscando agradar os outros é a perda de autenticidade. Isto é, temendo que sua verdadeira personalidade não seja suficiente para agradar, a pessoa passa a ser o que ela pensa que os outros querem que ela seja. E por causa disso, muitas vezes ela terá atitudes que reprova em seu íntimo, mas as pratica na esperança de ser aceito pelo grupo. Relacionada a isso está a prática de dizer sim para tudo o que o grupo aceita, mesmo que isso viole os seus próprios princípios. De fato, é extremamente nocivo dizer sim o tempo todo apenas para agradar aos outros, ignorando nossas próprias necessidades e desejos, e até sacrificando a saúde emocional. Aqueles que agem assim esquecem que Jesus disse que o nosso “sim” deve ser um sim verdadeiro e que o “não” deve também ser um não verdadeiro (Mateus 5:37). Com isso, Jesus estava ensinando que não podemos aprovar o que na realidade reprovamos, e vice e versa, mesmo que isso não agrade o grupo em que estamos inseridos.

O resultado de querer agradar a todos é que a autoestima se deteriora. Na verdade, nos tornamos escravos das pessoas que queremos agradar, nos tornando dependentes das opiniões alheias e necessitando sempre da aprovação constante dos outros para nos sentirmos bem. Além disso, ficamos muito sensíveis às críticas e rejeições, que são coisas comuns em nossas vidas.

Uma das piores coisas que acontece quando se quer agradar às pessoas é que, geralmente, negligencia-se a busca pela aprovação de Deus. E Jesus nos disse que devemos, antes de tudo, buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua justiça (Mateus 6:33).

Quando a prioridade é agradar às pessoas, a consequência geralmente é a frustração. Mas, quando a nossa prioridade é agradar a Deus acima de tudo, encontramos paz e propósito verdadeiro.

Temos como grande exemplo o Senhor Jesus Cristo, que não viveu para agradar às pessoas, mas sim a Deus. Ele desafiou as estruturas sociais estabelecidas e os dogmas religiosos que não condiziam com a vontade do Pai (João 5:30). Ele ensinou e amou, mas acima de tudo, confrontou as pessoas com os seus pecados. Ele também confrontou os religiosos com as suas práticas hipócritas. Se Ele tivesse como objetivo agradar às pessoas, não teria agido assim. Então, seguir o exemplo do Mestre nos liberta da prisão de viver querendo agradar os outros.

A verdadeira liberdade está em ser quem Deus nos criou para ser, e não quem os outros querem que nós sejamos. Buscar ser quem Deus quer que nós sejamos sempre é benéfico, pois traz Glória para o Senhor e realização plena para nossas vidas. Já buscar pela aprovação dos outros resulta em frustração, pois nunca conseguiremos agradar a todos. Mesmo se, por acaso conseguíssemos, ainda assim não alcançaríamos a realização plena, pois estaríamos vivendo para os outros e não para Deus.

Quando vivemos buscando a aprovação de Deus, não precisamos nos preocupar com a validação dos outros, já que é natural encontrarmos reações dúbias. De um lado, a maioria nos rejeitará, pois não nos alinharemos com os seus propósitos. De outro lado, um pequeno número de pessoas seguirá nossos passos, louvando a Deus por terem o exemplo de alguém que se opõe ao sistema mundano. Mas, mesmo essas pessoas discordarão de nós em algum ponto, pois não somos iguais em tudo.

Para concluir, viver querendo agradar os outros é um sinal de imaturidade espiritual, que reflete uma alma vazia que precisa da aprovação alheia para se sentir completa. No entanto, à medida que avançamos na busca pela aprovação divina, aprendemos que a única validação que realmente importa é a de Deus. Isso reflete uma alma preenchida pela presença de Deus e que está avançada no processo de maturação espiritual.

No entanto, não estou advogando que devemos viver ignorando completamente a aprovação dos outros. Isso é impossível, pois em certa medida, devemos agradar às pessoas que nos amam, assim como nossos líderes e patrões e amigos, se quisermos viver uma vida harmoniosa. Da mesma maneira, as pessoas ao nosso redor também buscam nos agradar de alguma forma, como nossos cônjuges, funcionários, amigos e etc. Mas, à medida que a nossa alma vai sendo maturada pela presença de Deus, podemos discernir claramente entre agradar aos homens e agradar a Deus. Dessa forma, não nos deixaremos seduzir pelo apelo dos louvores humanos e nem cederemos a tendência de buscar validação. Pelo contrário, viveremos em paz com todos, buscando, acima de tudo, agradar a Deus.

A busca por agradar aos outros nos aprisiona, elimina nossa autenticidade e abala nossa autoestima. Contudo, a verdadeira liberdade está em viver de acordo com o propósito que Deus escolheu para nós. A Bíblia nos encoraja a buscar o equilíbrio entre agradar a Deus em primeiro lugar e aos homens na medida certa, cuidando de nós mesmos, sem nos tornarmos escravos das opiniões alheias.

Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. Vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno (Salmo 139:23-24).

Que este salmo seja nosso cântico enquanto buscamos agradar primeiramente a Deus e encontrar verdadeira liberdade em Sua Vontade.

Ricardo Castro

Pastor e Escritor