A família e o desenvolvimento do caráter
E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens.
Lucas 2.52
Tempos atrás, era comum ouvirmos a frase: “A família é uma instituição falida”. As pessoas faziam uso dessa expressão porque viam muitas famílias destruídas, sobretudo, nos anos 1980, que ficaram conhecidos como os anos dos excessos. E as famílias naqueles dias já sofriam com a ação enérgica do pecado, e por isso, muitas delas se esfacelaram. Muitos casais se separaram e os filhos passaram a ser criados por um dos pais, com a visitação do outro. E isso gerou, por sua vez, os desajustes familiares que vimos nos anos 1990 e 2000, pois, sem referência de um lar sólido e coeso, os jovens passaram a reproduzir o que viram em suas próprias famílias.
Contudo, mesmo com esta situação dantesca, a família continua sendo a “célula Mater” da sociedade. Sem ela, as nações entrariam em colapso. Porém, vemos em muitas instâncias de nossa geração que muitas pessoas têm um interesse escuso de que as famílias se desfaçam. Isso porque essas pessoas são adeptas do caos e lucram com a desvalorização dos valores familiares. É por isso que vemos os ataques constantes e coordenados em favor do aborto, legalização das drogas, libertinagens, etc. Sem falar que o governo quer que cada vez mais cedo as crianças estejam sob o seu domínio. Isso para que mais cedo formem a sua mente em prol do individualismo e da desvalorização dos valores judaicos/cristãos.
Todo esse esforço para destruir a família somente prova o seu poder e que, se fosse possível dissolvê-la, o caos e a devassidão estariam instaurados na sociedade.
A desvalorização dos valores familiares incide profundamente no desenvolvimento da personalidade e, por isso, a família tem um papel preponderante nesse quesito.
Para fundamentar esta verdade, eu poderia usar diversos exemplos, mas decidi usar o maior exemplo: a família de Jesus.
É certo que, em seu ministério terreno, Jesus era 100% Deus, mas também era 100% homem. E como homem, Ele teve que aprender e crescer. Esse é um grande mistério, pois o Deus todo-poderoso se limitou voluntariamente para pagar à justiça de Deus os nossos pecados. Mas isso é assunto para outro momento. Voltemos ao escopo do nosso assunto.
O jovem Jesus teve grandes exemplos na sua família. Seus pais eram pessoas excepcionais. José, seu pai, era um homem de verdade. Digo isso não no sentido entendido hoje em dia. Porque nos nossos dias, o indivíduo é considerado um “homem de verdade” quando exibe proezas másculas, ou tem acessos de brutalidade, etc. Isso foi implantado em nós pela grande exposição de filmes e afins que exaltam a figura do “brutamontes”.
Mas, José era um homem de verdade porque ele era um homem justo, ao passo que era também empático. Acontece que, enquanto noivo de Maria, ele soube que ela estava grávida. Ou seja, supostamente ela o havia traído. Portanto, pela lei, ela e seu amante deveriam ser apedrejados (Deuteronômio 22.22; Levítico 20.10). Assim, José estava mais do que acobertado para desfazer o noivado. E ele também poderia reivindicar a lavagem de sua honra com o sangue dela e do seu amante. Entretanto, ele decidiu deixá-la secretamente, coisa que era impensável naqueles dias. Se as pessoas soubessem, sua honra de homem estaria manchada para sempre. Mas, mesmo assim, ele decidiu não fazer alarde e desfazer secretamente o noivado (Mateus 1.19). E por que ele fez isso? Bom, em primeiro lugar, acredito que a força do seu caráter justo tenha sido o fator preponderante. Mas acredito também que o amor que ele tinha por Maria o fez poupá-la da morte certa. Somente um homem de verdade, um homem de caráter faria uma coisa dessas.
Outro traço notável do caráter de José era a sua paciência e reverência.
Após ser avisado pelo anjo Gabriel de que Maria estava grávida do Espírito Santo, ele a recebeu como esposa, mas não pôde consumar o casamento justamente por causa disso. Ele teve que esperar os nove meses da gestação para poder consumar o seu casamento (Mateus 1.25). Com isso, ele demonstrou a sua paciência, mas também a sua reverência. Era direito dele, como esposo, consumar o ato matrimonial. Mas ele preferiu respeitar o agir de Deus para com a sua esposa.
Porém, acima de tudo, José era um verdadeiro homem de Deus. Tudo o que ele fazia tinha a chancela da vontade de Deus. Primeiro, por meio de um sonho, o Senhor o advertiu de que o que estava sendo gestado no ventre de sua noiva era concepção do Espírito Santo. E não vemos em nenhum momento José duvidando. Ele poderia pensar que havia tido somente um sonho. Mas ele era sensível à voz do Senhor e, por isso, recebeu Maria como sua esposa.
Depois ele também recebeu a ordem para fugir para o Egito porque Herodes queria matar o menino.
E aqui, abro um parêntese para dizer algo intrigante. Entro aqui no campo das suposições, mas naqueles dias, José e sua família não desfrutavam de boas condições financeiras e uma viagem ao Egito não era nada barata. Assim, para propiciar essa empreitada, possivelmente José tenha usado os presentes que lhes foram entregues pelos sábios do oriente. Com isso, vemos também que José era inteligente.
Lá no Egito, José foi avisado sobrenaturalmente a respeito da morte dos inimigos do infante Jesus e que deveria voltar à sua terra. Mas, precavido como era, sabendo que o filho de Herodes, o Arquelau, reinava em seu lugar, decidiu não mais voltar para Belém, mas foi morar na Galileia. Isso mostra a sua perspicácia e cuidado com a sua família. José foi um homem extraordinário.
E é interessante notar que todos esses atos e escolhas de José foram usados por Deus para o cumprimento de antigas profecias. Vemos isso claramente nos primeiros capítulos do Evangelho de Mateus que, logo depois dos relatos das escolhas de José, diz: “isso aconteceu para que se cumprisse o que disse o profeta…”.
Mas, o que falar de Maria, a mãe de Jesus? A despeito de toda a reverência exagerada que alguns concedem a ela, Maria também era uma mulher de verdade.
Maria era, antes de tudo, uma mulher de verdade porque era uma mulher de Deus. Ela enfrentou um grande risco para cumprir a vontade do Senhor em sua vida. O fato dela encontrar-se grávida sem ter casado a faria alvo não somente de um escândalo, mas também da perca da sua vida, como falei anteriormente. Mas ela não mediu as consequências. Ela quis somente fazer a vontade do Senhor (Lucas 1.38).
Maria também era uma mãe dedicada e amorosa, pois guardava no coração tudo o que se dizia a respeito do seu pequeno filho (Lucas 2.19). Entendo que ela guardava tudo no coração porque era o seu sonho ter uma família grande e feliz.
O cuidado de Maria por seus filhos fica evidenciado pelo fato de que, quando Jesus já estava em pleno exercício de seu ministério, ela foi até Ele para levá-lo para casa (Marcos 3.21). Alguns veem essa passagem como sendo uma tentativa de impedir o seu ministério. Mas vejo como uma mãe preocupada, que vê seu filho sendo aviltado e desacreditado, e que todos diziam estar louco. Ela somente queria livrá-lo de tal situação e por isso juntou seus outros filhos para acolher o seu primogênito. Ainda que Maria estivesse equivocada ao tentar levar Jesus para casa, isso mostra que ela realmente era uma excelente mãe. Que mulher extraordinária era Maria.
Foi nesse ambiente familiar acolhedor e amoroso, com grande exemplo de seus pais extraordinários, que Jesus pôde crescer tanto física quanto espiritualmente.
Isso é um grande exemplo para nós. Nossa família precisa ser uma árvore que abriga. Nossas famílias devem ser um refúgio contra as tempestades do mundo. Certamente, se as nossas famílias não forem refúgio para os seus membros, o mundo o será.
E como Jesus retribuiu esse convívio familiar saudável? Antes de tudo, Jesus só começou seu ministério itinerante aos trinta anos. Existem muitos motivos para ele só ter começado a pregar nesta idade, mas gosto de pensar que Ele tenha esperado até os trinta anos para que seus irmãos crescessem para tomarem conta da casa. Isso porque, nesse tempo, José já estava morto. Isso mostra que Jesus não era irresponsável ao ponto de deixar sua mãe sem amparo.
Na cultura judaica daqueles dias, quando o pai falecia, o primogênito assumia as responsabilidades da família. Jesus não agiu diferente. E, como tinha que cumprir seu ministério, Ele esperou o tempo certo para não prejudicar a sua família.
Já no fim da sua vida, Jesus entrega os cuidados de sua mãe ao apóstolo João, o discípulo amado (João 19.25-27).
Esse é outro dos grandes exemplos que a família de Jesus nos dá. Um filho ou filha não devem esquecer o cuidado com seus pais, mesmo após casados. É certo que, quando os filhos casam, devem sair de casa, pois Deus disse que eles deveriam deixar a casa para ser uma só carne com seu cônjuge (Mateus 19.5, Marcos 10.8). Porém, os filhos nunca deixam de ser filhos.
Encerro dizendo que o ambiente familiar de Jesus propiciou seu crescimento em todos os sentidos. E, a exemplo disso, nossas famílias também devem ser ambientes acolhedores e amorosos. Isso porque o ambiente familiar é determinante na formação do indivíduo. Um lar desfeito com muita probabilidade gerará uma personalidade desfigurada. Já segundo um dado da UNICEF, crianças criadas em lares com apoio emocional tendem a apresentar maior resiliência e personalidades firmes.
Nossos lares devem propiciar aos seus membros os insumos para a formação de uma personalidade forte e íntegra, como homens e mulheres de verdade.
Os filhos não podem abandonar seus pais em nome da independência (Êxodo 20.12; 1ª Timóteo 5.8), mas, pelo contrário, devem cuidar deles, assim como nós, os pais, devemos continuar cuidando dos nossos filhos. Filhos nunca deixam de ser filhos, assim como pais nunca deixam de ser pais.
E, acima de tudo, nossa família dever ser um exemplo de cristãos para que o nome de Deus seja glorificado por meio delas.
Que lutemos diariamente para construir uma família segundo os valores do Reino de Deus.
A Paz e Comunhão em Cristo.
ResponderExcluirÓtimo artigo! A família é, de fato, a base essencial para a formação do caráter. Os valores, princípios e exemplos vivenciados no lar moldam a maneira como cada indivíduo interage com o mundo. Quando a família investe em amor, respeito e ensinamentos sólidos, contribui diretamente para o desenvolvimento de pessoas mais equilibradas e éticas.
Que Deus abençoe o ministério e família.