CADEIAS INVISÍVEIS - POR QUE A VERDADEIRA LIBERDADE ESTÁ EM SER ‘PRISIONEIRO DO SENHOR’?

 


Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus, graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Efésios 1.1,2.

 

Há trinta anos, ao ler pela primeira vez a epístola aos Efésios, fui impactado pela profundidade de suas verdades eternas. Anos depois, descobri que alguns teólogos também ficaram deslumbrados e consideram Efésios como a “rainha das epístolas”. Ela destaca-se por focar na soberania de Deus — tema urgente para a nossa geração.

Mas, qual o motivo da singularidade desta epístola bíblica?

Efésios não trata de problemas específicos da comunidade a que foi direcionada. Ela também não trata de problemas pessoais de seus membros ou do seu autor, Paulo. Pelo contrário, em Efésios, Paulo nos abre a cortina do tempo e traz a lume as verdades mais consoladoras que já foram reveladas aos homens.

Outra característica interessante de Efésios é que, possivelmente, o apóstolo estivesse enfrentando uma prisão domiciliar em Roma. E esse é outro ponto que merece uma melhor atenção, porque, diferente do que Paulo fez em outras cartas, onde ele fala de suas dificuldades como prisioneiro, em Efésios ele somente diz que era o “prisioneiro do Senhor”. Penso que a falta de citações às dificuldades seja para que o assunto da Epístola foque somente nas verdades eternas.

E aqui vou me deter nos primeiros versículos da Epístola que, embora sejam pequeno em extensão, nos trazem verdades do tamanho da eternidade. E esses versículos se revesten de grande importância nos nossos dias, em que as pessoas vivem um tremendo paradoxo.

Por um lado, as pessoas querem viver em total independência, inclusive de Deus. E essa tem sido a tônica da vida de muitas pessoas. Mas, por outro lado, outras pessoas vivem em total dependência de elementos químicos, de relacionamentos, da interatividade das redes sociais (as quais são a coqueluche dos nossos dias) e, sobretudo, são dependentes dos entretenimentos. Para termos uma noção do quanto nossa geração é dependente da tecnologia, vejamos que certa pesquisa diz que as pessoas consultam o celular diariamente pelo menos 150 vezes. Em contrapartida, quantas vezes os cristãos modernos consultam a Bíblia diariamente? E ainda, quanto tempo eles investem em oração particular?

Diante disso, faço a pergunta: devemos ser dependentes ou não? E, em caso de resposta positiva, a quem devemos ser dependentes? Das pessoas? Das drogas? Dos relacionamentos? Da tecnologia?

É por isso que, para responder a esta questão, abordarei o primeiro verso da Epístola aos Efésios, onde Paulo começa falando de algo revelador e decisivo para nós.

 

Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus.

 

É interessante notar que Paulo sempre começa as suas epístolas reconhecendo que tudo em sua vida, inclusive o seu ministério, não vinha dele mesmo. Isto é, ele não escolheu ser apóstolo e nem mesmo cristão. Mas Paulo reconhece que tudo vem de Deus e que Ele o havia escolhido. E o grande ensinamento que Paulo nos dá é que devemos colocar Deus à frente de tudo, porque Ele tem a primazia. Em Colossenses 1.18, Paulo afirma que Cristo deve ocupar o primeiro lugar em todas as áreas da vida. E essa verdade choca-se com a praxe da nossa geração que abraçou o egoísmo como sua filosofia de vida. Para essa geração, tudo gira em torno de si. Eles só pensam em seus problemas, suas vontades, seus interesses. E as conquistas de suas vidas são atribuídas aos seus méritos. Mal sabem eles que é Deus quem lhes dá a vida, forças, expertise e insumos para poderem chegar aos altos patamares que chegaram. E isso é corroborado pelas palavras de Jesus em João 15.5: “Sem mim nada podeis fazer”.

Dessa forma, o apóstolo dá um tapa no rosto desta geração quando reconhece que Deus é a origem de tudo e que ele era totalmente dependente do Senhor, como todos devemos ser.

Ademais, o sábio rei Salomão disse mil anos antes de Paulo que, se colocarmos Deus à frente de tudo, Ele tirará todos os obstáculos de nosso caminho, possibilitando a vitória e a conquista do que queremos (Provérbios 5.6).

Prosseguindo em seu raciocínio, Paulo complementa que fora chamado para ser apóstolo. Isso indica que, além de reconhecer que a origem de seu ministério é Deus, o Senhor o havia chamado com um propósito específico, que era muito maior do que qualquer propósito que se possa estipular nesta vida.

Paulo nos mostra que o conhecimento de que tudo se origina em Deus inevitavelmente leva à percepção de que o Senhor nos chama com propósito específico. Isso quer dizer que Deus não nos escolhe somente para sermos rotulados como “crentes”, mas, acima disso, Ele nos chama para sermos seus embaixadores e ministros.

Não podemos, de forma alguma, olvidar da verdade de que é a vontade de Deus que realizamos a sua obra. Jesus, especificamente, disse nos haver nomeado (nos dado um nome) para darmos frutos (João 15.16). Isso implica que devemos ser propagadores do Evangelho e, assim como Paulo, ministrarmos “graça e paz” às pessoas com que interagimos. Essa deve ser a chancela de nossa chamada: Falar da Graça maravilhosa do Senhor.

 

graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

 

A palavra que em nossas bíblias está como graça é a tradução da palavra grega “charis”, que traz a noção de um amor incondicional. A graça, portanto, é um presente que não merecemos da parte de Deus.

A outra marca de nosso chamado é ministrar a paz sobre as pessoas que nos ouvem. E essa paz, a qual é a tradução da palavra grega “Eireno”, vai além da ausência de conflitos. Essa paz é uma condição espiritual concedida pelo Espírito Santo. A paz que silencia a fúria no coração, mas também a paz entre Deus e os homens, porque o apóstolo disse em Romanos 5.1 que, por meio do sacrifício de Jesus, temos paz com Deus.

Dessa forma, a graça é a causa da Salvação (um presente imerecido) e a paz é o resultado dela. Podemos, inclusive, dizer que a graça é a raiz e a paz o seu fruto. E o Senhor nos escolheu para ministrarmos ambas, a graça e a paz, às almas perdidas. Isso porque, em nenhuma das organizações e instituições humanas, pode-se encontrar a graça e a paz. Nesses empreendimentos humanos, o que se encontra é um paliativo, um alívio imediato. Mas, a salvação só se encontra em Jesus. E é por isso que, como Seu corpo e Sua noiva, Jesus nos chamou para ministrar ambos aos perdidos.

Mas, Paulo também chama seus destinatários de santos e fiéis. E essas duas características são importantes e essenciais para a nossa geração!

 

aos santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus

 

Santidade é uma palavra que sumiu do vocabulário do povo e, quando é usada, toma uma conotação jocosa. E até entre os cristãos, o conceito de santidade está destorcido, tendo em vista que a grande maioria não tem mais o discernimento entre o santo e o profano, fazendo com que ambos sejam uma mesma praxe e que, por isso, torna, em última instância, a santidade inexistente.

No Velho Testamento, o templo, seus utensílios e aqueles que nele ministravam eram separados para serem santos. Isso implicava que eles eram separados do que era comum e ordinário. Isto porque, ser santo é ser separado para o Senhor. E nós fomos chamados para sermos santos. E não somente isso, mas também para sermos fiéis, porque fidelidade tem a ver com a permanência na santidade.

Assim, esses pequenos versículos tocam nas grandes feridas desta geração. A grande verdade é que precisamos parar de olhar exclusivamente para nós mesmos e tributar toda honra e glória a Deus, o qual é a origem de todas as coisas e quem nos possibilita as vitórias e conquistas. E, além disso, necessitamos ser santos e fiéis a esse Deus que graciosamente nos salvou, nos nomeou e nos deu a nobre honra de sermos seus embaixadores, ministros de uma nova aliança que impetram a graça e a paz aos perdidos.

Portanto, que coloquemos Deus à frente de tudo e que reconheçamos a sua soberania sobre as nossas vidas. Que iniciemos nossos dias dedicando os primeiros minutos a Deus em oração. E ao interagirmos durante o dia, que possamos compartilhar uma palavra de graça e paz com alguém necessitado. Esses são pequenos passos de dependência de Deus que transformam a vida inteira.

 

Ricardo Castro.

Pastor, escritor, músico.

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