ADAPTANDO-SE ÀS MUDANÇAS DA VIDA
As roupas não são apenas pano sobre o corpo. Sei que isso pode parecer exagerado, mas todos sabemos que, de certa forma, a roupa revela um pouco do que somos. É claro que para toda regra existe uma exceção, mas se geralmente nos vestimos de forma austera, com roupas sociais, etc., passamos a imagem de que somos pessoas sérias e temos valores bem arraigados. Mas, por outro lado, se nos vestimos de forma sempre casual, com roupas que ressaltam as linhas do corpo e revelam muito mais do que os padrões das pessoas normais… bem, nem precisa dizer qual a mensagem que se está passando.
Não há como negarmos que as roupas são uma forma de comunicação verbal que expõe não apenas a nossa individualidade, mas também a cultura e o contexto social em que estamos inseridos.
Na Bíblia, as roupas são declarações de identidade. Por exemplo, Jesus era uma pessoa tão simples e se vestia tão semelhante aos seus pares que, para entregá-lo aos guardas do templo, Judas teve que diferenciá-lo com um beijo.
Mas, nestas linhas, quero meditar com você sobre um personagem que teve que forçadamente mudar de roupas e de situações, mas que por dentro permaneceu o mesmo: José do Egito.
Por ser filho de Raquel, o grande amor de Jacó, José sempre foi o preferido dentre seus irmãos. E, por causa disso, seu pai lhe deu uma veste talar colorida e de mangas longas (Gênesis 37.3). Aquela roupa era de pano, mas possuía significados invisíveis. Elas transmitiam uma mensagem aos seus irmãos de que José era o preferido de Jacó.
O fato daquela roupa ter mangas longas é ainda mais considerável, pois isso indicava que, diferente de seus irmãos, José não trabalharia no campo. As vestes dos trabalhadores braçais tinham mangas curtas para facilitar seu ofício. Por causa disso, seus irmãos passaram a odiá-lo. Aquela roupa colorida e irritante era um insulto para eles. Mas eles não odiavam a roupa em si, mas o que ela representava: A bênção oculta, a predileção de Jacó por José e a intimidade com o pai que eles não desfrutavam.
Mas ainda havia um agravante. Além de ser o preferido do papai, José também era seu informante. Ele levava para o pai relatórios de como estava sendo executado o trabalho dos outros filhos de Jacó, suados trabalhadores braçais.
Por causa disso tudo, quando José foi em busca de seus irmãos no deserto, eles tramaram a sua morte. E se não fosse a intervenção de Ruben, José teria sido morto por eles. Foi nesse momento que tudo mudou. Seus irmãos, tomados de inveja, lhe tiraram as vestes talares e o lançaram numa cova. O ato de lhe arrancarem a roupa simbolizava sua rejeição, mas também marcou uma virada na sua vida. De filho mimado, ele passou a ser uma mercadoria negociada com mercadores midianitas. E foi então que José teve que se vestir como escravo. Era uma nova realidade para ele e suas roupas expressavam essa guinada na vida. Ele já não vestia uma túnica colorida de mangas longas, mas as vestes opacas de um escravo.
Mas o que me chama muita atenção nessa história era que, mesmo acostumado com os mimos do pai, José soube se adequar à sua nova realidade e acomodou-se às vestes rudes e incômodas que a subserviência à Potifar exigia.
E nós? Quando a vida arranca as vestes de honra e coloca sobre nós roupas de humilhação, conseguimos continuar com excelência? Ou deixamos que a amargura seja o nosso uniforme? E muitas vezes por estarmos desfrutando de uma situação privilegiada e sermos honrados com “vestes talares”, isso atiça a inveja daqueles que estão nivelados por baixo. E também muitas vezes acabamos caindo vítimas da ação dos que nos odeiam e passamos a amargar uma nova realidade incômoda e talvez até desonrosa.
Mas, nessas situações, qual deve ser a nossa atitude? Será que temos a resiliência de José, que mesmo estando em uma nova realidade desprivilegiada, dá o seu melhor e por isso se torna administrador da casa do seu senhor? Essas são questões profundas que convido você a refletir.
Entretanto, ainda há outra mudança na vida de José. Quando já estava gozando de certo privilégio na casa de Potifar e certamente se vestia bem melhor do que quando foi vendido como escravo, veio a tentação. A mulher de Potifar apaixonou-se dele e propõe caírem nos deleites da carne. Porém, apesar de terem trocado as suas roupas, não conseguiram mudar quem ele era. Por isso, José decide-se por permanecer fiel a Potifar e a Deus. Mas, mais uma vez, suas vestes foram trocadas. Na realidade, elas foram novamente arrancadas de seu corpo. Isso representa o quanto as mudanças da vida são muito bruscas e até dolorosas.
Mas a calmaria não durou. Num instante, José deixou as roupas da subserviência a Potifar e passou a vestir os farrapos da cadeia. Era outra guinada na sua vida. Outra virada de chave. Outra realidade dolorosa. Já fazia 11 anos que as vestes da predileção de seu pai haviam sido retiradas de si. E quando parecia que tudo estava dando certo, veio novo golpe e tudo mudou para pior.
Isso nos leva novamente a refletir: como teríamos agido nessa situação?
Rejeitado e vendido por seus irmãos, acusado injustamente de tentativa de estupro. Muitos de nós teríamos surtado, criticado Deus, desacreditado das suas promessas e da sua bondade. Sobretudo, muitos de nós nos tornaríamos os piores presos da cadeia por pura revolta. Mas não, José. Mais uma vez, ele adapta-se à nova realidade e torna-se o melhor preso da cadeia, a ponto de o carcereiro elegê-lo como o líder dos presos. Mesmo vestindo farrapos, mais uma vez Deus o honra.
Porém, mais uma vez, sua vida teve uma virada. Só que dessa vez as coisas ainda foram mais difíceis. Ao interpretar os sonhos dos dois empregados de faraó que estava tendo um mau dia, por isso mandou prendê-los, ele viu a chance de livrar-se daquela situação. Mas, o copeiro de faraó o esqueceu.
O tempo passou lentamente. Foram Dois longos anos. Com certeza, suas vezes estavam ainda piores porque não era costume os presos receberem roupas novas. E muito menos ele, que supostamente tentara forçar a mulher do poderoso Potifar. Sua barba cresceu, isto é, sua aparência havia mudado. Isso é natural para pessoas que enfrentam situações tão radicais como ele. E isso também acontece conosco. O esquecimento, a rejeição, as dores na alma têm o poder de mudar muita coisa em nossa vida. Mas, como José, temos que ser resilientes e confiar totalmente no Senhor.
Em dado momento, Deus gera uma situação em que o copeiro teve que se lembrar de José, pois apenas ele com os seus dons poderia dar um jeito na situação. Faraó manda chamá-lo.
Então mandou Faraó chamar a José, e o fizeram sair logo do cárcere; e barbeou-se e mudou as suas roupas e apresentou-se a Faraó.
Gênesis 41.14
José barbeou-se. Ele se despiu de sua aparência, da dor, da longa espera, do semblante de quem foi esquecido pelos homens, mas não por Deus. Com aquele ato, José estava se despindo dos traumas, da rejeição e dos retalhos do passado. Ele reencontra a sua identidade que havia sido sepultada pela rejeição e pelas falsas acusações. A barba feita e as roupas novas eram uma declaração de que ele estava pronto para a restituição que Deus lhe preparara. Ele se reinventa para entrar numa nova estação.
Trocaram as roupas e a imagem de José algumas vezes, o rejeitaram, o venderam, o forçaram a subserviência e o acusaram injustamente. Mas nada disso conseguiu mudar a sua fidelidade aos seus princípios e ao Deus a quem servia.
Acho lindo que, no capítulo 45 de Gênesis, quando José se revela para seus irmãos, ele não expresse as marcas da dor e o fel da vingança. Pelo contrário, suas palavras revelam o quanto ele confiava em Deus e via tudo o que lhe aconteceram como os caminhos de Deus para abençoar sua família. Não vemos nele nenhum resquício de vitimismo, que é comum à nossa geração.
Pelo que Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra, e para guardar-vos em vida por um grande livramento. Assim não fostes vós que me enviastes para cá, senão Deus, que me tem posto por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa, e como regente em toda a terra do Egito.
Gênesis 45.7,8
A história de José nos traz reflexões profundas:
Quantas vezes as mudanças bruscas e dolorosas conseguem nos mudar completamente? Às vezes nos mudamos para pior.
Quantas vezes permanecemos vestidos com os trapos da prisão emocional, mesmo quando Deus já abriu a porta para uma nova realidade?
Quantas vezes perdemos oportunidades por não nos livrarmos dos trapos do passado e não nos barbearmos do vitimismo e do ressentimento?
A história de José nos ensina que, antes de entrar em novas realidades, devemos nos despir do que é velho, das experiências dolorosas, dos ressentimentos e do vitimismo. É necessário mudar as vestes internas para podermos desfrutar totalmente das novas realidades que Deus nos proporciona.
Troque hoje as roupas do passado e se vista para o futuro que Deus preparou para você.
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